quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quem Te Traz as Cores - Capítulo 4

Alexandre Barbosa da Silva

Capítulo 4 : Lá e De Volta (para o presente) Outra Vez.



- Aparentemente estamos no lugar certo – falou Gabrielle comparando o nome no folheto com o da fachada do hotel.

- É, e não parece ruim... – constatou Douglas.

- Ok, vamos fazer o check-in.

Douglas começou a falar com a recepcionista em inglês. Ela dizia que não havia outro quarto para uma pessoa, a não ser o que estava reservado pra ele, e que além dele, só havia uma suíte de dois quartos, que custava o dobro.

- Não tem problema, eu pago a diferença – falou Gabrielle sorrindo – Pelo menos são dois quartos, assim não vai ficar muito estranho – então dirigiu-se a recepcionista – There is a particular toilet for each room, isn’t? – seu inglês não era maravilhoso, mas ela se fazia entender.

- Yes, of course - respondeu a recepcionista.

- Perfect! – Gabrielle já começou a assinar os papéis que a mulher lhe entregava. Pouco tempo depois eles subiam o elevador com um mensageiro que carregava as malas em um carrinho de muita má vontade. Ele lançava olhares enraivecidos para os dois, e não falava uma palavra, apenas olhava emburrado (entre um olhar perverso e outro) para o painel que mostrava o andar, como se esperar o elevador chegar fosse durar uma eternidade.

Quando chegaram no quarto, Douglas percebeu que Gabrielle estava tentando conquistar a simpatia do garoto, sorrindo e agradecendo pelos seus serviços – embora o garoto os fizesse de uma forma um tanto rude. Ela só parou quando ele fez um suspiro de irritação depois que ela o agradeceu por ajudar a colocar as malas de Douglas no outro quarto.

Depois de esvaziar o carrinho, o mensageiro ficou parado no corredor, olhando os dois como se esperasse alguma coisa. Gabrielle foi até a porta, lhe lançou um imenso sorriso, que desta vez ele quase retribuiu, e então fechou a porta com um baque, sem dizer uma palavra.

- Se ele achava que ia ganhar gorjeta depois do suspirinho, deve ser maluco – falou Gabrielle transtornada. Definitivamente, ser antipática com alguém era algo que ela fazia a contragosto, mesmo que a pessoa merecesse.

Douglas riu alto.

- Vou tomar um banho – disse.

-Eu também – falou ela, e cada um entrou em um banheiro.

Depois do banho, Douglas decidiu que a dar uma volta, talvez comer uma pizza, estava faminto. Saiu do quarto e viu Gabrielle saindo do outro banheiro de roupão, e depois se jogando em um tapete que ficava entre a cama e a mesinha onde estava a televisão. Deitada no chão, olhava para o teto com uma expressão pensativa.

- Gabrielle, eu acho que vou dar uma volta, quem sabe comer uma pizza, conhecer um pouco a cidade. Afinal, depois de amanhã eu já vou para Veneza.

- Aham, tudo bem, vai lá – disse ela erguendo a cabeça com dificuldade, ainda deitada no chão – quer dizer, nós não precisamos ficar o tempo todo juntos... não é?

Ela havia entendido errado, na verdade ele ia convidá-la pra ir junto, e conversar mais um pouco, e não percebeu que ela na verdade também queria ir.

- Ah, ta bom... ok – falou ele meio desconcertado. Então se virou pra porta e começou a andar.

Por sorte (ou não), ela era mais perceptiva.

- Douglas - ela disse enquanto ele se afastava – posso ir junto?

Ainda virado de costas pra ela, ele sorriu. Depois diminuiu o sorriso e virou-se novamente na direção dela.

- Tá, se levanta, e coloca uma roupa quente, deve estar ainda mais frio agora – ele então estendeu a mão para ela, que aceitou a ajuda sorrindo também.




- Ah, você não pode achar o terceiro melhor que os outros, principalmente o segundo! - exclamava Gabrielle do outro lado da mesa, com um pedaço de pizza na mão.

- É sério, eu só fui ver De Volta para o Futuro Parte 3 depois de velho, e como já tinha visto os outros cinqüenta mil vezes antes... acho que gostei mais do que deveria – era a primeira vez que a conversa tinha tirado a expressão pensativa e séria do rosto de Gabrielle, e Douglas estava dando corda ao assunto, por que sabia que ela estava pensando no no encontro com o pai no dia seguinte.

- Tudo bem... pelo menos concordamos sobre o primeiro Matrix e o sexto livro do Harry Potter. Mas ainda acho que não conseguiria criar filhos com alguém que acha o terceiro De Volta para o Futuro o melhor da trilogia.

Douglas ficou encabulado. Isso mesmo, como um adolescente de quinze anos (ou menos). Ela riu, e depois disso, veio o silêncio da falta de assunto. O sorriso de Gabrielle começou a diminuir, até ela voltar a ficar séria e pensativa. Douglas não conseguia pensar em outro assunto para começar – efeito colateral de ter ficado encabulado. Quando foi abrir a boca para falar a primeira coisa que lhe veio a mente, ela falou:

- Eu sei o que você está fazendo Douglas – Eu disse que ela era perceptiva – obrigada. Mesmo. É a prova de que a minha idéia de virmos juntos foi de fato, ótima.

Douglas apenas concordou com a cabeça.

- Mas... vamos terminar de comer e voltar para o hotel, já está ficando tarde.

Comeram, e conversaram mais um pouco no caminho de volta. Gabrielle tentando fingir que não estava nervosa. Estar nervosa não era uma situação comum para ela também. Deitada na cama do hotel, depois que Douglas lhe deu boa noite e foi para o outro quarto. Ficou uma hora pensando no dia seguinte sem conseguir dormir. Estava preocupada, mas sabia que era uma boa atriz, quando se falava em esconder os sentimentos – a não ser talvez, de Douglas – e que pularia a parte das acusações contra o pai, fugiria dos clichês e pelo menos no começo, representaria um papel calmo, sensato e forte, sem choro, sem rancores...

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