segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Histórias de Uma História


Conto 5

Quando criança Cristina tinha muitos sonhos que desejava realizar. Entre eles os de se tornar uma pessoa de sucesso, casar com um homem bonito e ter filhos. Esses são aqueles tipos de sonhos que as novelas e a televisão em geral vendem para as crianças e para as pessoas em sua maioria, afinal quem nunca sonhou com algumas dessas possibilidades ao menos alguma vez na vida?

Desde cedo Cristina foi uma criança tímida, de poucas palavras e de muitos olhares. Olhares estes que observavam pequenos detalhes que as pessoas que vivem na correria do dia-a-dia não percebem, como, por exemplo, os gestos que as pessoas fazem com a boca ao mastigar a comida nas refeições, ou os movimentos das sobrancelhas em determinados sentimentos expressos, e até mesmo as acrobacia que as folhas secas fazem no outono ao despencar dos galhos em direção ao chão . Ela observava também os animais que cuidavam de seus filhotes quando ia ao zoológico, observava também os passarinhos que se empoleiravam nos fios de luz no inicio da manha. Conforme o tempo foi lhe acrescentando a idade ela percebia cada vez mais um ritmo na vida, um fluxo suave da natureza.

O tempo passou e todos os desejos almejados por ela quando criança sumiram de seu coração. Agora ela simplesmente queria entender a vida. Muitas e muitas perguntas flutuavam em sua mente durante quase todo o tempo, porém a maioria sem resposta. Um dia ao observar os pássaros que em seguida voavam pelo céu buscando seu alimento diário nas alturas, ela se deu conta de algo a mais que as pessoa pouco olham... O céu.

Aquela imensidão azul claro do entardecer decorado com algumas nuvens que pareciam chamuscadas pelo brilho do sol que se punha atrás de uma montanha fazendo fronteira com o horizonte dava um sentimento de infinitude para Cristina. Aquele foi o cenário que a inspirou a começar a escrever um livro sobre as coisas que pensava da vida.

Cristina escrevia sobre tudo que observava em seu dia-a-dia. Coisas simples para as outras pessoas, porém que a inspiravam seu espírito a transpor em palavras as coisas belas que ela enxergava da vida. Os anos lhe cobraram mais um pouco da sua juventude até que ela finalmente encontrou uma pessoa amada com a qual dividir suas alegrias, seus medos, seus sentimentos de amor, seu marido se chamava Roberto e era alguém que completava um espaço dentro do seu coração.

Pouco tempo depois Cristina ficou grávida de um menino, nessa época começou a escrever em seu livro tudo o que sentia, desde sensações até sentimentos daquela pequena vida que crescia dentro dela com muito amor.

Era um garoto e se chamava Douglas. O filho de Cristina assim como ela era muito tímido quando criança, mas que tinha muitas duvidas sobre os detalhes da vida. Frequentemente ele fazia perguntas do tipo “Por que os pássaros podem voar e nós não?” E Cristina lhe respondia tudo o que podia e o que havia aprendido durante a vida, que tudo tem um sentido e um propósito completo em nossas vidas, na natureza.

Em uma certa noite de verão seu filho Douglas ao observar os  besouros que voavam a volta de uma lâmpada da varanda notou que um deles havia caído de costas e não conseguia mais se levantar, intrigado o garoto perguntou para ela o por que daquilo, por que, o besouro não conseguia se levantar com suas próprias forças e voar novamente. Aquela pergunta deixou Cristina intrigada que não soube responder para o filho o motivo. De todas as coisas que ela observou durante o tempo que estava escrevendo seu livro, aquela era uma coisa da qual nunca tinha notado e tão pouco sabia o motivo. Se a natureza é tão perfeita e complexa, por que, alguns animais e insetos como besouros e tartarugas estão fardados a sofrer e não conseguir levantarem-se para tocar seus pés e patas no chão novamente e seguir caminhando? Haveria uma resposta?

O tempo mostrou para Cristina que talvez não, quando ela descobriu ter uma rara doença a principio incurável, um câncer na coluna que lentamente a mataria, a não ser que um milagre a salva se. Depois de um certo tempo Cristina perdeu os cabelos que tanto cuidava para manter brilhosos e bonitos, porém ela não dava a maior das atenções para aquele fato, sabia que tudo tinha um propósito.

O tempo passou e cada vez mais Cristina ia ficando mais e mais debilitada devido à doença, mas aquilo de forma alguma tirava sua força, três vezes por semana seu filho Douglas ia ao hospital lhe visitar e aquilo lhe dava mais e mais força. Certo dia a porta de seu quarto no hospital se abriu com uma corrente de ar, no corredor ela viu duas crianças correndo uma atrás da outra em meio a brincadeiras, quando uma delas caiu no chão esfolando os braços e pernas. A outra criança olhou para a amiga e estendeu o braço para ajudar ela a se erguer. Aquilo fez um sorriso radiante brotar no rosto de Cristina.

Um dia o médico entrou no quarto de Cristina com um expressão de tristeza. Cristina estava muito debilitada, ele sentou ao seu lado e de modo gentil lhe disse que sentia muito, mas não podia mentir para ela, seu tempo estava acabando, não restava muito, e as chances de um milagre de acontecer eram mínimas...

Cristina pegou na mão do médico e lhe disse com muita certeza, que cada dia que ela passou naquela cama de hospital dava a ela mais vontade de viver, pois ela enxergava o mundo de um modo diferente agora, ela tinha a resposta para a pergunta do filho. Ela apontou para o livro azul com nuvens desenhadas, e disse ao médico que entregasse para alguém que precisasse de um pouco de esperança na vida. O médico sorriu  segurando algumas lágrimas sabendo que ela estava para se despedir dessa vida e disse “todos nós precisamos de um pouco de esperança hoje em dia”  

Eu não preciso de um milagre doutor eu já vivi a vida inteira um milagre e agora percebi. Cristina sorriu ainda mais e concordou com a cabeça e fechou os olhos para sempre.
O doutor emocionado pegou o livro curioso e o abriu na mesma página que Douglas e Daniel liam agora no presente...

M I L A G R E...

É tudo o que esperamos em nossas finitas vidas que se alastram pelo infinito tempo... Quando você cair e não conseguir se levantar tenha a certeza que uma mão de amizade e amor vai estar do seu lado para lhe ajudar a levantar...

Ás vezes somos feitos para não conseguirmos levantarmos por contra própria, pois precisamos que alguém toque nossos corações e nos dêem um motivo para levantar.
Assim como os besouros de verão que voavam encantados pela luz cor de prata da lua, nós andamos encantados por luzes que enganam nossos sentimentos, nossos olhos... A vida nos derruba e às vezes parece um abismo e escuro e intransponível... Até que um sorriso, uma gargalhada, uma amizade, um sentimento de amor nos ilumina naquele lugar...

Os besouros caem porque existem para serem completados pela natureza e completarem a mesma. Assim é conosco, existimos para preenchermos a vida de outras pessoas e para que outras pessoas preencham a nossa vida através de gestos que façam a vida ter sentido, que faça valer a pena de uma forma que ainda talvez não possamos enxergar plenamente...

OS BESOUROS CAEM, NÓS CAIMOS, PARA QUE POSSAMOS ADQUIRIR A FORÇA PARA LEVANTAR! Esse é um dos propósitos... Meu filho AMADO.

Ao ler aquelas palavras Douglas cedeu a algumas lágrimas ele entendia agora que podia superar tudo que havia passado...


Continua...