Nasceu, e aprendeu a
andar, a falar, a correr, a se vestir por conta própria. Aprendeu o caminho da
escola e deixou de precisar que sua mãe levasse.
Conheceu a morte
cedo, quando seu avô morreu. Uma marca.
Conheceu muitas
pessoas malucas no segundo grau. Estas também deixaram suas marcas.
Aprendeu junto com
elas, que o mundo é muito mais do que a televisão mostra. Que os problemas tem raízes muito mais profundas do que a sociedade ensina. Aprendeu que ninguém dá
a mínima pra isso.
Tentou mudar o mundo
na faculdade, não conseguiu. Frustrou-se, mas tinha ainda vinte anos apenas, e
havia se apaixonado. Haveria muito tempo pra mudar o mundo.
A mudança ficou pra
depois, enquanto se separava, se apaixonava novamente e gastava seu tempo
trabalhando. Pra comprar uma casa.
Pra comprar um carro
pra ir trabalhar, e assim, pagar a casa e o carro.
Sempre quis escrever, desenhar, pintar, tocar
um instrumento musical. Mas não havia tempo! Tinha que cuidar das crianças, da
vida amorosa que equilibrava-se na beira de um abismo gigantesco.
Chorava quando estava
triste. Chorava quando estava feliz, por que pensava que a felicidade não
duraria muito, e logo estaria triste novamente.
As vezes queria
acreditar que o momento bom duraria, mas isso só aumentava a queda quando quase
podia enxergar a efêmera felicidade lhe escapar por entre os dedos, um momento
antes de ela desaparecer.
Vinte anos depois de
começar a trabalhar naquela empresa, vei a demissão. Diziam que era por causa
dos problemas com os remédios e outros vícios. Que não produzia mais como
antigamente.
Chorava. Por que
ninguém dá a mínima. Quando criança seu mundo inteiro parou por um dia, e ninguém
pareceu se importar. Mas era jovem, e havia superado. Havia deciddo que faria
algo de maravilhoso com a sua vida. Que algumas pessoas sentiriam respeito e
admiração por tudo o que tivesse feito.
Mas não fora forte o suficiente. Deixara-se
engolir pela vida... ou... o que chamam assim.
Havia ainda
tempo? Mais importante, havia ainda força?
Mostrou nesse texto a angústia que todos nós, admiradores das artes, sentimos ao sermos levados cada vez mais a tarefas cotidianas para outrem, as quais acabam tirando nosso tempo e inspiração para dedicarmos às mais diversas formas de arte, que são as únicas formas de verdadeira manifestação do espírito - de algo superior à matéria. Tal angústia que faz-nos fugir cada vez mais de tais padrões; angústia que se revelam com nossa aversão e negação ao sistema social atual.
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