segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Cicatrizes e Equações

(Alexandre Barbosa da Silva - 28/11/2015)





  Uma estrela morreu hoje e com ela, toda uma civilização.

  O Éter deste universo está alterado de forma permanente.

  Mas ele não percebe nada. Não hoje, principalmente. Fica depressivo as vezes, fica desanimado. Fica impaciente ou totalmente apático, sem vontade de fazer nada e sente que se uma turbina de avião caísse no quarto dele, ninguém sentiria sua falta, muito menos o universo com suas estrelas morrendo e suas civilizações sendo dizimadas.

  Só que hoje ele só está... Melancólico. Triste, solitário.

  Romanticamente triste e solitário.

  Uma lágrima escorre por seu rosto enquanto ele olha pra rua nove andares abaixo através do vidro da janela e da chuva que bate nela fazendo aquele som.

  Quanto tempo faz?

  Ele não sabe dizer. Tempo demais.

  Desde a última vez que se sentiu triste e solitário, não apático e deprimido, mas sim como se o motivo de sua tristeza fosse claro como o dia e o ar estivesse elétrico. Apesar da tristeza, ainda há beleza no mundo dele.

  Andou pensando em alguém novamente. Sem reprimir seu sentimento por essa pessoa e sim, nutrindo-o. Por que aparentemente, sua abordagem de total desprendimento, desconfiança e cinismo, baseada em todas as decepções e cicatrizes, não estava lhe fazendo tão bem quanto a antiga de se deixar levar, apaixonar-se e deixar sua imaginação fluir docemente fazendo-o sentir que existe algo que ele quer gritar pra todo mundo e que não importa qual seja a ração. O pior que pode acontecer é... Ah! Dane-se o que pode acontecer.

   As vezes, algo que acontece já é uma recompensa em si mesmo. Por que os números mudam de lugar quando algo acontece e o algarismo estático sobre a cabeça dele parece não estar o ajudando em nada.


  No grande esquema das coisas, nada do que ele fizer faz muita diferença. Mas ele ouviu em algum lugar que ele devia fazer assim mesmo. Nunca tinha entendido isso muito bem até agora. Então ele sorri, chora, ama, se decepciona e recomeça... e não é necessário ser totalmente egoísta para que os números continuem mudando, fazendo uma das trilhões de engrenagens do universo mexer-se um centímetro em sentido horário, resolvendo uma pequenina equação. E enquanto, aparentemente nada muda para o universo, o mundo muda para ele. Em seu microcosmo, até onde sua vista alcança, tudo está diferente. 

domingo, 29 de março de 2015

E Se...

  Então tinha esse cara. Ele queria algumas coisas. Uma dessas coisas poderia vir de diferentes fontes, embora fosse desde que se lembrava, sua busca mais importante e, dolorosamente, mais infrutífera.

  Se algo pode vir de vários lugares, o que exatamente diferencia o produto final com base em sua origem? Esse cara não sabia explicar sem dizer que talvez ele só veja um potencial maior em algumas coisas do que em outras. Pode estar errado, pode ser um sentimento temporário e ele sabe disso, mas no momento, em algumas possibilidades ele vê a grandeza e em outras nem tanto.

  Ele sentia que havia um lugar onde ele deveria procurar primeiro, pois se ele conseguisse antes em outro, achava que sempre se perguntaria “E se...”. E pra esse cara, nada é pior que o escravizante “E se”.

  Na mente desse cara, é bastante claro que conseguir seu objetivo da sua fonte principal seria muito mais difícil. Cada queda dói mais. Mas cada vitória é mais trabalhosa e, portanto, pra ele, mais recompensadora.


  Ele então ouve uma música que expressa muito melhor seu sentimento do que ele mesmo consegue. Racionalmente ele consegue explicar muito bem pra si mesmo. E disseram pra ele uma vez que ele tem certo jeito com as palavras escritas (algo que ele nunca realmente se convenceu). Mas na cabeça dele ele vê... uma mensagem quase cifrada - mas não menos sincera por causa disso -  jogada ao universo como uma garrafa que é jogada ao mar, com a esperança de que seja achada no lugar certo.

sábado, 28 de março de 2015

O Lado-B de Si Mesmo



  Oh... hoje eu acordei bem. Fazia quanto tempo mesmo?

  Muito. Muito tempo de uma mente confusa e de pensamentos não-familiares. Medos ultrapassados e receios infundados.

  Você precisa de uma chacoalhada de vez em quando. Depois de parar por anos e se auto-analisar – mais do que se poderia considerar totalmente benéfico, muito mais – talvez seja a única coisa a te dar de volta um pouco da realidade.

  A auto-análise traz reflexões interessantes. Onde eu erro com freqüência? Talvez seja bom fazer algo a respeito. Mas o quê? Meio que sei, mas nunca me senti tão preguiçoso, nunca senti tanta indiferença com tudo que me envolve. Mas eu preciso me reinventar, achar meu lado-b mais sociável, compreensivo, sereno e mais feliz, por que se não, é bem mais fácil só deitar aqui e esperar...

  E então ocorre uma explosão. O brilho de mil estrelas te acerta na cara com toda a força. E dói, a princípio. Mas ofusca a incerteza, não a eliminando, mas impedindo-a de continuar a te impedir. O que ocorre a partir deste fenômeno muda de alma para alma.

  Sempre pensei que achar meu lado-b fosse a resposta pra todos os pequenos problemas que me afetam grandemente no longo prazo. Mas essa era uma visão estreita, limitada. Nunca pensei em outras formas dessas mesmas coisas acontecerem. Talvez eu não precisasse me reinventar. Talvez eu precisasse trazer de volta parte do passado e mesclá-lo com parte do presente, criando um antigo eu, só que mais sábio e experiente e, portanto, uma nova coisa que ainda carrega características resultantes da soma de tudo aquilo que foi e é.   

  Uma evolução, não uma mudança completa. Mas não sei se é possível, depois de se chegar a um certo ponto, fazer isso sem levar um CHOQUE, sem sair da sua zona de conforto e redescobrir a sensação de espanto. Sem aceitar o passado antes de jogá-lo para o fundo da memória. De novo, dói, eu sei, mas só por um tempo. Muito menos do que o tempo que vai doer se não o fizer.


  Espero que amanhã acorde bem novamente. E por que o caso não se repetiria? É só eu continuar enfiando o dedo na tomada sempre que necessário.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Naqueles Dias


  Naqueles dias, não era difícil achar grupos de pessoas brincando e festejando ao redor de fogueiras na beira da praia, nos subúrbios ou mesmo dentro dos bares bebendo como se não houvesse amanhã. E dentro de alguns dias talvez não houvesse mesmo.

  Podia-se chegar para uma pessoa na rua e puxar assunto, pois não havia o que temer e mesmo que houvesse, tudo o que antes era interessante, não era mais e as pessoas importavam. Não as rotinas inúteis e as regras sociais e modos de agir em público.

  O garoto andava por aí, hora de carro, hora correndo e gritando enquanto sentia o cheiro de maresia e abraçava e era abraçado. Não havia motivo para ter dor de cabeça, nem hoje nem em qualquer dia. O pânico só dura um tempo, e depois tudo fica tranquilo de novo. Talvez esta seja a melhor serventia para a facilidade que o ser humano tem de se acomodar.

  Pena que, por causa desta mesma característica, as pessoas esperaram tanto para descobrir... o que descobriram naqueles dias.