Diário das Trevas Completo

                                                         Diário Das Trevas

Escrito Por: Édiner. R. Silveira
A vida da gente na maioria das vezes é normal, escola, trabalho, amigos, casa, final de semana, sair, filmes e claro dormir, eu particularmente sempre gostei mais da noite, além de ser mais intrigante e misteriosa que o dia a noite sempre me mostrou uma das coisas mais legais que se tem para fazer! Olhar as estrelas e escutar o som do mar! Mas o que eu mais fiz a minha vida toda foi reclamar, por que reclamar? Ora obvio que graça tem a vida quando ela é sempre a mesmice, bom eu não tenho namorada então a minha vida principalmente sempre foi uma mesmice só, talvez por isso eu sempre tenha gostado mais de filmes de ficção cientifica e de terror, Matrix, Alien, Senhor dos anéis, Harry potter, quem nunca quis ir estudar na escola de magia de hogharts aquela mesma igual a do filme e a dos livros, seria algo incrível, mas logo quando agente termina de ver um desses filmes ou de ler o livro tudo volta ao normal é por isso que eu acho a vida como ela é uma completa chatice.
Bom eu estou falando tanto, mas ainda não me apresentei meu nome é Josh eu moro com a minha mãe e meu irmão mais velho tenho 16 anos de idade estou no ensino médio tenho uma vida normal, normal até demais minha rotina sempre foi a mesma, dormir tarde acordar quase na hora do almoço ir para a escola de tarde voltar para a casa estudar depois mexer no computador ler algum livro e outras coisas desse gênero e claro antes de dormir vegetar um pouco, bom com o tempo isso enche o saco, nos finais de semana o que eu faço depende do que eu ou os meus amigos decidimos então é uma verdadeira loteria, mas nos dias de chuva o tédio quase me consome, então o melhor a fazer é dormir com o barulho da chuva, você deve estar pensando que eu sou um daqueles garotos mimados que só sabem reclamar, mas não é bem isso eu estou falando isso tudo porque muitas vezes agente reclama das coisas literalmente de barriga cheia eu sempre reclamei, mas quando a vida da gente muda nós lembramos como ela era boa e não damos valor eu não acho que a vida normal seja uma coisa chata e sem graça pelo menos não mais depois de tudo que aconteceu, quando a escuridão tomou conta do mundo e nada mais foi igual. Mas eu vou começar a contar essa história pelo começo.
Capitulo 1: coisas que não sabemos explicar.
O dia parecia normal era começo do inverno e apesar de frio o sol era muito bem vindo para aquecer as mãos e o corpo, o céu estava limpo completamente azul naquele começo de tarde, o almoço estava pronto, porém minha mãe não estava em casa, pois estava trabalhando ela é gerente de uma loja de bolsas de marca só restava eu e meu irmão mais velho, ele se chama Bob tem 18 anos de idade e está estudando para entrar em uma faculdade, durante a semana agente sempre almoça sozinhos e nos finais de semana a mãe esta com agente, eu e o meu irmão nos damos na medida do possível bem, na verdade acho que é quase raro algum caso de irmãos que vivam em completa harmonia e paz, mas eu e o Bob nos entendemos bastante. Eu almocei escovei meus dentes como de costume enfiei a mochila nas costas e fui para a escola que para minha sorte é perto da minha casa então eu não tenho que pegar ônibus nem nada do tipo além de poder sair mais tarde de casa que eu sempre chego a tempo.
Eu me despedi do meu irmão, e na verdade foi a ultima vez que eu o vi, ele estava feliz com um sorriso no rosto, no dia anterior eu tinha escutado ele no telefone falando com um amigo sobre uma garota que ele estava gostando, talvez fosse esse motivo daquele sorriso espontâneo, ele me deu um tchau incomum, aqueles de irmão que sem importam com agente, algumas horas depois provavelmente ele saiu para ir ao curso pré-vestibular e como todas as outras pessoas que eu conheço nunca mais o vi até hoje.
Muitas vezes eu me senti como se alguém estivesse me seguindo no caminho para a escola, ou me observando de algum lugar, eu não tinha uma explicação para isso, mas naquele dia de alguma forma parecia mais intenso que o comum.
Após alguns minutos de caminhada eu estava na escola, aquele trajeto era tão comum para mim que eu ia no piloto automático, se eu estivesse vendado seria capaz de chegar no mesmo tempo que com os olhos abertos, nesse percurso eu ia pensando sobre coisas simples como aquela prova super difícil que havia naquela semana, ou pior nas duas ou três provas que teria de fazer no mesmo dia, e que conseguia complicar a minha pacata vida.
A escola foi normal, algumas aulas legais, outras pareciam mais um funeral interminável em que as horas se arrastavam, na minha opinião o problema não são as matérias e sim os professores, tem os que sabem fazer os alunos se interessarem por pior que seja sua visão da matéria e outros que conseguem tornar a aula uma guerra contra o sono por mais interessante que seja. Conversei com os meus amigos normalmente e já estava imaginando o que ia fazer quando chegasse em casa como de costume.
Perto da hora de ir para casa podia-se escutar uma espécie de trovoadas que lentamente foram se tornando mais frequentes e fortes, tudo bem trovoadas não são nada de mais, significa que vai chover, mas eram trovoadas que vinham do céu completamente azul de um  horizonte a outro, eu achei aquilo simplesmente legal, mas não posso negar senti um frio no estomago. Os trovões não tinham relâmpagos, nuvens e tão pouco raios e estavam vez após vez mais fortes chegando ao ponto de fazer as classes e cadeiras  das salas de aula vibrarem, meu coração estava acelerado, meus colegas e a professora estavam com uma expressão de susto estampados no rosto, inquietos todos espiavam pelas janelas da sala procurando algum sinal de um temporal se aproximando no céu. Eu comecei a pensar em varias hipóteses do que poderia ser aquilo, cheguei a pensar que fossem bombas e que alguma guerra poderia ter começado, mas eram trovões esbravejando pelo céu e apavorando as pessoas, tão fortes naquele ponto que eu sentia o lanche que havia comido no recreio chacoalhar dentro do meu estômago, foi então que todos nós escutamos um grito de uma garota na entrada da escola, um grito tão forte que metade dos estudantes e professores escutaram, todos saíram das salas em direção a garota em meio aos trovões.
Eu esperei a maioria dos meus colegas saírem da sala e então fui até onde estava a garota, havia algumas pessoas paradas olhando pra o céu na direção do horizonte com as bocas abertas e outras aos gritos correndo pegando seus pertences e correndo, eu parei no pátio e olhei na direção em que todos estavam olhando, uma nuvem massa negra e densa vinha tomando a cidade lentamente, do asfalto até o céu a perder de vista, aquela nuvem completamente negra tomava a cidade, ao longe dava para escutar mais gritos barulhos de sirenes, um frio me percorreu a espinha meu coração acelerou a primeira coisa que me veio à cabeça foi correr para casa, fui até a sala peguei minha mochila e sai em disparada em direção a minha casa, no caminho havia caros em alta velocidade ignorando sinais de transito, ônibus batidos contra postes, carros capotados e pessoas correndo, a nuvem negra vinha engolindo tudo ao seu caminho mergulhando a cidade completamente nas trevas, eu estava correndo o máximo que podia a nuvem negra estava apenas uns dez metros de distância quando cheguei na porta de casa, não tinha ninguém então tive que procurar as chaves no bolso da calça, a nuvem vinha cobrindo absolutamente tudo quando alcançou a minha rua um carro desgovernado perdeu completamente o controle e capotou fazendo chover faíscas pelo asfalto. A nuvem estava a apenas 3 metros era impossível enxergar para dentro dela e eu não achava a droga da chave, uma mulher vinha correndo quando foi engolida pela escuridão e em seguida começou a gritar, gritos de terror como se a pior coisa do mundo lhe houvesse acontecido, eu não achava as minha chaves, sentia que iria morrer a qualquer momento.
Capitulo 2: Medo
Eu acho que o que agente mais tem medo na vida é a morte, quando eu pensava na morte eu achava que era uma coisa que estava longe de mim, que eu estava protegido e que ia demorar muito tempo para a “minha hora chegar” eu nunca tinha parado para pensar sobre isso, como ia ser com que idade eu iria morrer, mas depois de tudo que aconteceu eu tive que aprender a aceitar que quando eu menos esperasse a morte poderia bater na porta da minha vida e me convidar a deixar este mundo mesmo contra minha vontade, mas com o tempo eu só tinha uma única coisa para me proteger de tudo isso, era uma palavra chamada fé nada mais.
Enquanto eu observava aquela nuvem negra se aproximando de mim e engolir tudo ao seu redor, um pensamento passou pela minha cabeça, um pensamento de que eu iria morrer naquele momento que não havia mais tempo, um frio me percorreu a espinha, o ultimo bolso da calça que eu havia procurado era onde estava a chave da porta da minha casa, mas já era tarde demais quando eu finalmente achei aquela bendita chave.
Lentamente aquela nuvem negra cobriu toda a cidade, do asfalto até o menor pedaço do céu que a luz do sol podia tocar, e assim como todo o resto eu também fui engolido pela nuvem negra, sem poder me defender, sem poder olhar novamente nos olhos das pessoas que eu amava...
Eu estava sentindo um pavor difícil de explicar, um medo atormentador me tomou eu conseguia sentir meu corpo gelar lentamente, como se a minha vida estivesse se esgotando a cada segundo que passava, eu havia fechado os meus olhos, na verdade me faltava coragem para abri-los, pois tinha medo de talvez enxergar algo assustador, minha mão ainda estava no bolso segurando a chave. Foi então que eu reuni toda a coragem que me restava e abri os olhos para encarar o que estava acontecendo. Estava tudo escuro, mas não completamente escuro, pois os postes das ruas estavam acessos, na verdade parecia uma noite gelada e nublada, porém sem a luz das estrelas ou da lua, tudo estava quieto e sem vida, eu senti meu coração acelerar repentinamente como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento, sem hesitar eu enfiei a chave na porta e entrei em casa o mais rápido que pude trancando a porta em seguida, dentro de casa estava totalmente escuro, as janelas estavam cobertas por cortinas, eu não sabia se devia acender as luzes, pois poderia chamar a atenção, então decidi me virar com a luz da tela do celular, afinal de contas quem nunca usou o celular para isso? O primeiro lugar que me passou pela cabeça para ir era a cozinha, eu estava com fome e pensei em pegar algumas velas para iluminar um pouco a sala a cozinha e os outros cômodos que eu fosse usar, depois de acender quatro velas decidi comer alguma coisa, achei alguns pães guardados na dispensa e os comi com geléia, eu não sabia o que iria acontecer dali pra frente então decidi economizar a comida, também para o caso de minha mãe ou meu irmão chegassem.
Depois de comer coloquei duas velas na sala, uma na cozinha e outra no banheiro. Então me sentei no sofá e fiquei parado ali naquele silêncio, imaginando a minha mãe e o meu irmão entrando pela porta como todos os dias, mas conforme o tempo passava aquilo parecia mais impossível, mais distante de acontecer, mas o que mais me preocupava era  uma garota que eu gosto que estuda em outra escola, fiquei tentando adivinhar se ela estava bem, fazia pouco tempo que agente tinha começado a sair, mas eu já podia dizer que amava ela. As dúvidas martelavam a minha cabeça e as perguntas surgiam uma a uma, o que estava acontecendo? Por que de tudo aquilo? O que é aquela nuvem negra?
Foi então que meus pensamentos foram interrompidos por um barulho vindo do celular, eu o peguei com o coração disparando de tão rápido, estava escrito 1 Nova Mensagem. Não esperei nem um segundo e apertei o botão para ler a mensagem...



Capítulo 3: Estranhos
As coisas aconteceram tão rápido que eu nem tive tempo para pensar direito sobre tudo que havia acontecido naquele dia, foi então que eu comecei a imaginar várias coisas que poderiam ter causado todo aquele caos, aquela nuvem negra poderia ser algum vazamento químico e por isso a cidade poderia ter sido isolada, podia ser também algum desastre natural seguido do apocalipse, guerra, ou até mesmo aliens que estavam invadindo a terra, agente ta tão acostumado com os filmes de ficção que são as primeiras coisas que vem na cabeça da gente em um tipo de situação dessas, eu fiquei tentando achar a hipótese mais provável para tudo aquilo, mas a minha cabeça ficou mais confusa quando eu li a mensagem que havia sido enviada para o meu celular.
Eu apertei o botão e comecei a ler a mensagem que estava na tela do meu celular, era tão clara aquela mensagem que eu custei a acreditar no que estava escrito, de inicio eu pensei que poderia ser uma mensagem da minha mãe ou do meu irmão meu coração desejava que fosse também a garota que eu amava ela se chama Jayne, mas infelizmente não foi nenhuma dessas pessoas que eu mencionei que me enviou a mensagem de texto, cada palavra daquela mensagem parecia absurda e improvável.

Pense coisas boas, ñ ha como salvar as pessoas que vc ama, somente o coração de cada uma pode salva-las do perigo que esta mais próximo do que cada um de nós imagina, evite sentimentos como ódio e raiva e talvez tudo ficará bem...Foi isso que escapou do diário. Até mais. P.S Não ligue as luzes e em momentos de desespero olhe para o alto ^^                         REMETENTE: Desconhecido
Aquelas palavras por mais que estivessem no meu idioma não faziam sentido eu me joguei na poltrona apavorado, a situação parecia mais séria e complicada do que eu imaginava, senti um terrível aperto no coração, cada pensamento que me vinha a cabeça me dava mais medo, afinal quem havia me enviado aquela mensagem? O silêncio e a escuridão eram minhas companhias naquele momento, me fazia uma falta tremenda a voz da minha mãe a presença do meu irmão e a vontade imensa de falar com a garota que eu amo Jayne...
Repentinamente um barulho veio da rua, perecia quem alguém estava revirando alguma coisa, a minha reação não foi outra, fui até a janela e puxei lentamente um pedaço da cortina até abrir uma fresta suficiente para que eu pudesse espiar, ainda estava tudo escuro, porém na casa em frente a minha as luzes estavam todas acessas, definitivamente eram os meus visinhos que conseguiram chegar em casa, uma esperança encheu meu peito, a primeira coisa que veio a minha cabeça foi ir até lá e pedir ajuda, saber o que estava acontecendo se eles sabiam da minha mãe e do meu irmão foi então que todas as minhas intenções foram atropeladas, uma lata de lixo veio rolando estranhamente pela rua, eu conseguia escutar vagamente as vozes dos visinhos conversando, mas o que tinha derrubado a lata?
Sim podia ser a minha mãe e o meu irmão, as pessoas podiam estar voltando para suas casas e tudo ficaria bem, porém eu estava redondamente enganado, dois vultos surgiram na rua caminhando lentamente eles usavam mantos negros e tinham uma estatura mediana, ambos pararam na frente da casa dos meus vizinhos tocaram a campainha e depois de alguns segundos a porta se abriu, foi então que tudo começou...

Capítulo 4: Razão para Temer.
Eu senti como se o tempo tivesse ficado mais lento aquele seria o momento da minha vida onde grandes mudanças iriam acontecer, onde a forma como eu enxergava as coisas mudaria drasticamente, depois de assistir a tudo aquilo me arrependi por não tapar os ouvidos, mas o choque foi tão grande que eu fiquei sem ação por um tempo.
Os vultos tocaram a campainha da porta, alguns segundos depois as vozes que vinha da casa dos meus visinhos cessaram, acho que eles esperavam alguém ou estavam curiosos com quem poderia ser naquela situação. A porta se abriu lentamente era a minha vizinha que havia ido atender, ela ficou parada, pois acho que ela não conseguia ver os rostos dos sujeitos um silêncio pairou, eu olhei para o meu relógio apesar de estar escuro marcava 6 horas da tarde, era para começar a escurecer naquele horário.
Ela se inclinou tentando ver os rostos dos sujeitos que permaneciam imóveis como se estivessem esperando por algo, quando ela finalmente enxergou suas faces um grito de pavor rompeu com o silêncio, ela caiu no chão apavorada se arrastando desesperadamente para dentro da casa, em seguida os dois seres cobertos pela manta escura entraram na casa. Foi nesse momento que eu desejei tapar os ouvidos, mas fiquei sem reação. Vário gritos de pavor começaram a vir da casa, barulhos de móveis caindo e quebrando vinham de vários cômodos os vidros das janelas estouraram seguidos de mais gritos que pareciam vir do fundo da alma daquelas pessoas.
Repentinamente as luzes da casa se apagaram e os gritos cessaram por completo, o pavor me tomou conta não quis esperar ali para ver algo mais assustador ou pior chamar a atenção, eu sai correndo me certificando que a casa estava fechada em seguida apaguei a ultima vela que estava no banheiro e fui para o meu quarto, tranquei a porta e me deitei na cama em baixo dos cobertores, me sentia seguro ali de baixo, nada seria capaz de me achar, na minha cabeça eu ficava tentando me convencer que a minha casa estava bem fechada e que não havia luzes ligadas nem nada do tipo que pudesse chamar a atenção de ninguém.
Embaixo dos cobertores acabei me perdendo em meus pensamentos e finalmente dormindo. Quando agente dorme por mais que tenhamos problemas, todos desaparecem é como se a realidade se alterasse sejam sonhos bons ruins ou malucos todos eles parecem melhor que encarar a realidade, até mesmo quando agente não sonha coisa alguma é melhor do que o medo, o medo da vida real...
Eu acordei embaixo das minhas cobertas ainda, estava bem quente, mas eu fiquei completamente perdido no tempo, não sabia que horas eram minha boca sentia sede, apalpei meu bolso e achei meu celular, apertei o botão do menu e percebi que a bateria estava na metade da carga total, mas aquilo não era um problema afinal ainda havia energia elétrica, se eu desligasse podia correr o risco de perder a ligação de alguém.
No relógio do celular marcava exatamente 22:38, ou seja, eram dez horas da noite e quase onze horas como eu costumava falar para a minha mãe quando ela me perguntava que horas eram, essas lembranças fizeram minha saudade e preocupação aumentarem, empurrei os cobertores para os pés da cama e fiquei sentado no colchão esfregando os olhos. Repentinamente um arrepio me percorreu a espinha como uma premonição e em seguida um barulho de passos dentro da minha casa quase me fez ter um ataque cardíaco logo depois um barulho de algum objeto caindo no chão confirmou o que eu mais temia, havia alguém dentro da minha casa, mas o que mais me intrigava era quem poderia estar dentro da minha casa.

Capítulo 5: Visitas indesejadas.
Meu coração batia rápido era a única coisa em meio ao silêncio tenebroso que eu podia escutar além dos passos que vinham da sala, eu tive a sensação de que a minha cabeça iria começar a girar até eu cair no chão e chamar a atenção dos intrusos. Mas pensando bem por um lado poderia ser a minha mãe ou o meu irmão, talvez eu estivesse muito assustado pelo que tinha visto algumas horas mais cedo na casa vizinha e por isso estava tão abalado. A dúvida de quem poderia estar na sala me corroia por dentro, eu não podia correr o risco de me enganar.
Resolvi me levantar lentamente e ir até a porta para tentar escutar alguma conversa ou voz que me ajudasse a distinguir quem era, a porta do meu quarto estava trancada e isso fazia me sentir um pouco mais seguro em meio aquele clima tenso que pairava no ar.
Parei em frente à porta e aproximei meu rosto próximo à mesma para tentar escutar melhor, eu ainda conseguia ouvir barulhos baixos que indicavam que ainda havia alguém ali, coloquei uma mão sobre a maçaneta e a outra na chave, estava decidindo dentro de mim se abria ou não a porta, até que uma pensamento me ocorreu; Se fosse minha mãe ou meu irmão eles não estariam se movimentando dentro da casa com cuidado, pois já conheciam a mesma, ou seja, era alguém ou algo que não conhecia o ambiente da casa e por isso se movimentava lentamente, parecendo observar o local desconhecido em busca de algo ou alguém, talvez eu!
Meu coração acelerou mais ainda, como nunca havia batido antes, com certeza aquela era a melhor oportunidade para mim saber se tinha algum problema do coração. Eu me afastei da porta com os olhos arregalados tremendo.
Sentei na cama, mas estranhamente eu não sentia medo ou pavor a possibilidade de que aqueles seres encapuzados estivessem na sala da minha casa havia arrancado meus sentimentos, na verdade eu estava em estado de choque, não conseguia mexer meus dedos muito menos os braços ou as pernas, estava completamente paralisado, um sentimento agonizante me tomou eu não conseguia respirar, sentia vontade de gritar profundamente com todas as minhas forças até ficar rouco ou morrer.
Involuntariamente lágrimas verteram dos meus olhos e rolaram pelo meu rosto, quando senti o calor das lágrimas na minha pele consegui voltar a mim e mexer as pernas, braços e tudo mais. Repentinamente os passos dentro da sala se tornaram mais fortes, como se algo tivesse sido descoberto.
Começaram a andar como se tivessem encontrado algo, ouvi as portas dos cômodos serem abertas uma a uma seguidos de barulhos de coisas sendo reviradas, era questão de tempo até que chegassem no meu quarto e conseguissem arrobar a porta que estava trancada. Os passos pararam e em seguida começaram novamente, definitivamente eram dois sujeitos, pessoas ou coisas seja lá o que fossem estavam a caminho do meu quarto. Eu pude ver como se fosse em câmera lenta a maçaneta girar seguida de batidas violentas na porta, não havia para onde ir eu estava encurralado...
Capítulo 6: A verdade começa a se revelar.
Escrito Por: Édiner.R. Silveira
O que agente mais almeja na vida é ser feliz, por isso vivemos e enfrentamos as adversidades da vida com o intuito de superar os problemas sempre buscando a felicidade. No mundo em que vivemos encontramos obstáculos em praticamente tudo, mas existe um motivo para tudo ser assim como é... É uma coisa que convive com agente todo o dia, todo o momento... É o Mal que habita as entranhas de alguns corações
Eu pude ver como se fosse em câmera lenta a maçaneta girar seguida de batidas violentas na porta, eu me levantei respirei fundo e resolvi enfrentar o destino, não tinha para onde eu ir, me lembrei da mensagem que havia recebido no celular, que dizia para me esconder em algum lugar alto em momentos de desespero, mas era impossível achar algum lugar alto no meu quarto que me protegesse. Era isso então, em alguns instantes eu iria encarar a verdade, meu coração estava acelerado, mas não como antes, de alguma forma parecia que eu havia aceitado aquela condição.
As batidas na porta continuaram estavam cada vez mais fortes até que a maçaneta saltou longe e a porta se abriu de uma vez só com uma força impressionante, atrás da porta estava tudo escuro, mas eu podia sentir que havia dois sujeitos ali parados me observando, foi então que eles entraram no meu quarto lentamente observando o lugar atentamente, como se procurassem alguma armadilha, nessa hora eu me dei conta que eu realmente fui um grande idiota em não armar nada para elas, mas já era tarde naquele momento eu só esperava que o meu fim fosse rápido, talvez ninguém acredite em mim, mas eu estava calmo na verdade nem eu acreditava na minha própria calma, procurei pensar em coisas boas em lembranças agradáveis da minha família das pessoas que eu amo...
Eles usavam mantos negros com as cabeças cobertas por capuzes, estavam parados na minha frente, eram magros e relativamente altos do mesmo jeito que eu havia visto quando invadiram a casa vizinha, eu não conseguia enxergar suas faces, porém quanto mais eu permanecia ali mais sentia coisas ruins pairando no ar, era como se todos os sentimentos negativos que existem buscassem uma forma de penetrar minha alma ou o meu coração, eu me sentia pressionado com aquela sensação, mas as lembranças das pessoas que eu amo me ajudaram a resistir...
Eles pareciam surpresos com alguma coisa, me observavam parecendo serem capazes de farejar o que se passava dentro de mim. Eles se olharam por um instante parecendo concordar em algo e mostraram seus rostos foi naquele momento que comecei a entender uma parte do porque tudo estar tomado pelas trevas...
Quando olhei para os rostos deles não acreditei no que vi... Eram rostos com feições humanas, porém sem personalidade a pele tinha uma cor acinzentada pendendo para o escuro, suas bocas, narizes e outros detalhes eram iguais um ao outro como se fossem irmãos gêmeos na verdade pareciam mais fantoches ou bonecos sem qualquer sopro de vida, porém com certeza o mais aterrorizante eram seus olhos, no lugar destes havia apenas os buracos das orbitas sem os olhos ali jazia uma profunda escuridão, quando olhei bem para dentro notei faíscas cinzas que corriam para todos os lados aos montes dentro do vazio onde deveriam estar os respectivos olhos, era algo que chegava a me hipnotizar, aos poucos fui perdendo a sensação do peso do meu corpo até sentir como se estivesse flutuando, quando finalmente me percebi sendo puxado para dentro daquele poço de trevas e dor...
Eu estava em uma praça com árvores belas, havia crianças brincando felizes umas com as outras, ali perto seus pais estavam reunidos sentados em bancos conversando entre si saboreando pedaços de bolo, no meio da praça tinha uma fonte com água cristalina que jorrava em abundância, pássaros e outros animais habitavam aquela linda praça de uma cor verde viva como nenhuma outra, eu senti a vida soprar na forma de uma suave brisa que rodeava o lugar... Repentinamente tudo ficou preto e branco, rapidamente a fonte secou, as crianças começaram a ficar magras até caírem no chão de fraqueza, a grama se transformou em um emaranhado seco e sem vida, os adultos se deram conta que havia sobrado somente um pedaço de bolo e então começaram a lutar entre si disputando aquele ultimo pedaço, eles começaram a se matar tomados pelo ódio, pois não aceitavam dividir aquele pedaço uns com os outros queriam tudo para si.
Finalmente o mais astuto venceu a batalha e escravizou os outros em troca lhes dava algumas migalhas do bolo como pagamento da construção do que parecia ser um castelo, o tempo foi acelerando, mas eu não envelhecia tão pouco eles podiam me ver, no tempo que passou aquela praça foi transformada em um castelo rodeado por lama, as crianças estavam magras  jogadas na sarjeta junto a sujeira mendigando um pedaço de pão, eu senti um profundo peso e dor no meu coração aquilo começava a me corroer por dentro, eu estava ali vendo tudo acontecer mas não podia fazer nada, resolvi entrar no castelo...
Lá dentro o homem que havia escravizado os outros estava sentado numa confortável cadeira rodeado por comida de todos os tipos, ele comia alguns pedaços e o resto mandava dar aos cães ou jogar no lixo, o tempo acelerou novamente e me vi na frente do castelo, porém este agora tinha detalhes de ouro, na entrada do castelo o “rei” dava ordens para um exército começar uma guerra com outro reino a fim de conquistar as riquezas alheias, ao redor do castelo ainda havia lama e em meio a estas, crianças e velhos estavam jogados sem nenhum cuidado...
Repentinamente tudo sumiu, eu estava em um lugar branco onde imagens começaram a surgir suspensas no ar como se fossem televisores, as imagens mostravam coisas aterrorizantes, crianças passando fome, animais sendo maltratados, pessoas matando umas as outras, guerras, roubos, a água sendo poluída de propósito para que as pessoas tivessem que pagar para tela tudo isso em meio a grandes prédios de luxo e carros de ultima geração, homens de terno com cabelos grisalhos contando pilhas de ouro e dinheiro no topo de seus prédios jogavam suas migalhas lá de cima para quem vivia em baixo migalhas que pareciam chuva de esperança para quem fosse comê-las. Tudo ficou escuro repentinamente...
As imagens sumiram e quando me dei por mim estava novamente no meu quarto de pé em frente ao seres encapuzados, eu senti raiva, ódio e dor tudo ao mesmo tempo por tudo que havia visto, dei alguns passos para trás fragilizado, quando olhei para eles notei que suas bocas traziam agora um largo sorriso, foi então que eles vieram para cima de mim com uma intenção sombria e gelada como a noite, era o meu fim não me restava mais forças meu coração havia cedido ao ódio por ver aqueles homens ricos e egoístas sem dividir nada com os mais pobres...
Foi então quando tudo parecia perdido, quando aqueles seres estavam quase colocando suas mãos em mim para me tomar a vida, que uma pessoa que eu não via há muito tempo surgiu na porta do meu quarto...
 

Capítulo 7: Menos respostas e mais perguntas.
Faltavam alguns centímetros para que os dedos daquele ser tocassem o meu peito, foi então que uma pessoa que eu não via há muito tempo surgiu na porta do meu quarto. Eu custei a acreditar no que os meus olhos estavam vendo, na verdade era uma coisa inesperada, se pedisse para eu listar as pessoas que poderiam aparecer na porta do meu quarto numa situação dessas eu chutaria pessoas como Michael Jackson, os Beatles, mas não ele, fazia muito tempo que eu não o via pessoalmente, mas ele realmente estava na porta do meu quarto.
Por quê? Era a pergunta que rondava os meus pensamentos, mas eu não tinha tempo para me questionar sobre isso naquele momento. Uma luz nasceu timidamente em meio a toda escuridão e foi ganhando mais vida e intensidade pouco a pouco iluminando todo o quarto espantando os seres encapuzados que desapareceram com um grito agonizante.
Eu respirava profundamente em grandes arfadas definitivamente o medo o ódio e a surpresa me tomaram conta naqueles últimos instantes que eu havia vivenciado. O homem segurava uma luz em forma de lágrima feita de um vidro azul celeste, era daquele lugar que a luz havia brotado e aquele homem era meu pai que eu não via há alguns anos, parado na porta do meu quarto em meio a toda escuridão e caos que se espalhava cada vez mais pela cidade.
Como uma pessoa que eu não via há exatamente dois anos poderia ter aparecido ali naquele momento para me salvar? Ele ainda segurava aquela luz em sua mão provendo luminosidade no cômodo, senti meus olhos arderem por estarem tantas horas na escuridão, mas aos poucos fui me acostumando com a luz. Meu pai se chama Robert, tem cabelos escuros, porém escassos com entradas para careca nas laterais da cabeça, olhos castanhos e altura em torno de 1,70cm, ou seja, um homem bem comum.
Ele estava parado me observando com um olhar de medo e pena ao mesmo tempo, ele respirou fundo e entrou no meu quarto largando a lágrima de vidro luminosa sobre o criado mudo ao lado da minha cama. – Eu estava vindo visitar vocês, já havia combinado com a sua mãe, quando cheguei na cidade uma nuvem negra invadiu tudo junto com umas trovoadas.
- Pai eu... eu entendo o motivo de você ter saído de casa, eu não vou passar a odiar você por causa disso ainda mais agora que todo mundo desapareceu. – Quando terminei de pronunciar essas palavras ele me abraçou com bastante força e eu retribui o abraço de meu pai, no fundo eu sentia um pouco de mágoa, mas a saudade que eu sentia dele era maior que tudo, afinal de contas ele deixava claro no olhar que se importava comigo.
- Filho quero que você pegue mochilas e sacolas e encha com toda comida que puder, meu carro esta ai na frente, vamos sair dessa casa é muito perigoso ficar aqui, essas coisas estão vasculhando tudo.
Eu estava confuso com tudo aquilo e tinha uma enxurrada de perguntas para despejar sobre o meu pai, mas eu concordei que a minha casa já não era um lugar seguro para se ficar, resolvi então fazer o que ele estava me pedindo e depois fazer as perguntas que estavam coçando na minha garganta. Fui até a cozinha e coloquei toda comida que pude dentro da minha mochila e algumas sacolas, em seguida escrevi um bilhete e deixei em cima da mesa caso meu irmão ou a mãe chegasse em casa.
Arrumei minhas coisas peguei algumas roupas e entrei no carro do meu pai, era um carro popular normal, ele estava sentado com as mão no volante de forma impaciente. Quando fechei a porta do carro e respirei fundo minha calma foi esmagada, quando meu pai deu a partida no carro e os faróis acenderam uma coisa assustadora se revelou, uma coisa que eu jamais havia imaginado que poderia ter acontecido...
Capítulo 8: Um mundo com sede de esperança e fé.
Arrumei minhas coisas peguei algumas roupas e entrei no carro do meu pai, era um carro popular normal, ele estava sentado com as mão no volante de forma impaciente. Quando fechei a porta do carro e respirei fundo minha calma foi esmagada, meu pai deu a partida no carro e os faróis acenderam uma coisa assustadora se revelou, uma coisa que eu jamais havia imaginado que poderia ter acontecido...
Havia milhares de pessoas jogadas por todos os lugares, seus corpos tinham manchas escuras como se fosse hematomas, em outras partes do corpo havia esses mesmos sinais escuros, porém se alastravam como se fossem veias se concentrando nas manchas maiores. Mas o que mais me chamou a atenção foi que exatamente em cima do peito onde correspondia o local do coração havia rosas negras com um núcleo vermelho. Definitivamente aquelas rosas negras eram feitas da mesma mancha e veias negras que jaziam nos corpos das pessoas.
- Pai você já tinha visto isso?
Meu pai me olhou com um tom entristecido e respondeu minha pergunta balançando afirmativamente a cabeça enquanto puxava o freio de mão e acelerava o carro em direção à estrada. Cada vez mais sentia que tudo aquilo parecia um pesadelo, pela primeira vez estava sentindo o medo e o desespero me tomarem conta lentamente. Eu estava com medo de que minha mãe ou meu irmão estivessem naquele estado, lutava contra minha própria mente para parar de imaginar coisas ruins que poderiam ter acontecido com eles.
Às vezes quando eu assistia na televisão alguma noticia de uma tragédia e via as famílias chorando muito convictas que achariam seus familiares vivos após um desmoronamento, terremoto ou queda de avião pensava comigo; - Por que essas pessoas não aceitam que eles estão mortos? É mais fácil aceitar a morte do que provar da dor e sofrimento por mais tempo.
Porém eu estava provando daquele sentimento naquele momento, e finalmente entendi o que aquelas famílias sentiam, por pior que a situação se apresentasse. Elas amavam tanto aquelas pessoas que esse amor fazia nascer à fé e a esperança dentro de seus corações, eu havia entendido que quando amamos muito alguém passamos a acreditar muito nessa pessoa, logo esse amor nos dá a esperança e fé de acreditar nessas pessoas. Por pior que sejam as circunstâncias temos fé e esperança nas pessoas que amamos.
Alguns meses depois olhando o noticiário enquanto jantava vi aquelas mesmas pessoas que tanto acreditavam na sobrevivência das pessoas que amavam abraçando sua mãe que havia sido resgatada depois de 3 semanas embaixo dos escombros, quando perguntada como ela havia sobrevivido ela respondeu com um sorriso de felicidade no rosto em meio a algumas lágrimas. – Foi o amor e a fé pelos meus filhos que me fez suportar todo esse tempo...
É depois de me lembrar dessa história comecei a ter esperanças e fé de que minha mãe e meu irmão estavam bem. Só restava achá-los para poder dar um abraço bem forte em cada um. Meu pai parecia nervoso dirigindo o carro, era muito difícil enxergar o asfalto estava tudo muito escuro e os faróis do veiculo não davam conta de iluminar tudo. Foi então que me dei conta que não sabia para onde estávamos indo.
- Para onde agente ta indo?
-Vou passar no trabalho da sua mãe ela pode estar lá e depois no curso do seu irmão, se eles foram inteligentes não saíram para a rua como você fez.
- É, bem na verdade eu estava na escola e sai correndo para casa quando tudo começou.
- Eu sei filho eu passei no seu colégio e percebi que não havia ninguém lá então fui até em casa. – Disse meu pai com um olhar de saudade para mim.
- Você sabe se essa escuridão tomou conta das outras cidades?
- Não sei, tudo começou quando eu já estava aqui na cidade, estava almoçando ainda depois da viagem, não sei se a cidade onde eu moro está assim também, além de tudo os telefones não estão funcionando nem para enviar mensagens.
Me lembrei imediatamente da mensagem que havia recebido algumas horas mais cedo, aquilo me assustou, já que os celulares não tinham nenhum tipo de sinal, porém resolvi não falar disso naquele momento com o meu pai.
Eu fiquei em silêncio ao ver mais pessoas naquele mesmo estado que tinha visto perto da minha casa, era algo de cortar o coração. Quando eu as via sentia como se toda a esperança desaparecesse de dentro de mim, então decidi não olhar mais.
Fui pego de surpresa quando meu pai acelerou repentinamente o carro, meu corpo foi jogado para trás tamanha a aceleração, me virei no banco e vi que haviam três daqueles seres encapuzados perseguindo o nosso carro em alta velocidade era algo sobre humano, quando observei melhor notei que o céu estava ficando avermelhado seguindo de trovões e relâmpagos de mesma cor. Um vento muito forte começou a soprar fazendo folhas e alguns lixos começaram a flutuar embalados pela força do vento, as nuvens avermelhadas e os relâmpagos fizeram o ambiente se tornar mais claro, ou seja, já era possível enxergar algo a mais.
Meu pai acelerava cada vez mais o carro quando a alguns metros eu vi uma pessoa correndo desesperadamente de outros seres encapuzados, era ela a garota que eu estava amando correndo  para salvar a sua vida, porém o carro estava em uma velocidade altíssima seguido por mais seres encapuzados que vinha no nosso encalço, eu não sabia se daria tempo de parar o carro e salva-la, eu não sabia como reagir...
Capítulo 9: Mergulhando na escuridão.
Eu queria tanto poder levantar da minha cama e descobrir que tudo que havia acontecido não passava de um sonho. Seria com certeza uma sensação agradável, porém não era mais do que um desejo meu.
No meu desespero e na falta de tempo a única coisa que me ocorreu foi gritar para o meu pai salvar Jayne, a garota que eu amo e que por algum motivo estava correndo desesperadamente, tentando fugir daqueles seres que brotavam da escuridão. Eu não sabia se o meu pai seria capaz de parar o carro a tempo ou fazer alguma manobra devido a velocidade que o carro estava.
Notei então que ele já tinha visto a garota e pelo seu olhar ele tinha algum plano maquinando dentro de sua cabeça. Ele repentinamente virou o volante do carro para a direita passando por cima da calçada, a alguns metros dali naquela mesma calçada Jayne corria aos tropeços quase se entregando a exaustão.
- Pegue essa lanterna aponde para as suas costas e ligue quando eu disser. – Disse meu pai tentando manter o controle da situação.
Eu concordei com a cabeça, em seguida olhei para trás, os seres encapuzados continuavam ao nosso encalço freneticamente sem dar trégua. Eu estava com o coração a mil, segurava a lanterna firmemente em minhas mãos determinado a superar tudo aquilo.
Meu pai acelerava cada vez mais até que finalmente havia alcançado os seres encapuzados que perseguiam Jayne. Com muita precisão ele jogou o carro por cima daqueles seres os atropelando. Eu pude ver como se fosse em câmera lenta seus corpos rolando por cima do capo do carro e em seguida serem jogados com brutalidade no meio da rua.
- Agora! Ligue a lanterna. – Gritou meu pai.
Eu me virei imediatamente e liguei a lanterna na direção dos seres encapuzados que nos perseguiam. A luz era extremamente forte e ofuscante fazendo-os parar no mesmo instante. Meu pai não perdeu tempo e saiu do carro para ajudar Jayne que estava caída no chão vencida pela exaustão.
O céu continuava avermelhado no centro seguido de relâmpagos  de mesma cor, parecia um cenário apocalíptico o vento ainda soprava, porem com menos força.
- Continue apontando a luz na direção deles! – Gritou meu pai enquanto pegava Jayne no colo e voltava para o carro.
Os seres encapuzados estavam agonizando perante aquela luz, eles tentavam defender seus rostos com as mãos estendidas sobre os mesmos. Em alguns momentos eles davam passos para os lados meio que desnorteados, porém eu os seguia com a luz intensa da lanterna. A luz era tão forte que até eu me sentia incomodado, tamanha era sua intensidade. Meu pai entrou no carro em seguida e colocou Jayne cuidadosamente no banco de trás, eu continuava dando cobertura determinado em atrapalhar aqueles seres.
Meu pai se ajeitou no banco, colocou a mão sobre a alavanca de marchas do carro engatando a primeira e finalmente puxou a porta para fechá-la e finalmente seguirmos em frente. Foi nesse momento em que a porta vinha para se fechar que um ser surgiu na porta do carro e agarrou o braço do meu pai.
Era um dos seres que meu pai havia atropelado, porém este estava sem capuz, diferente dos outros tinha olhos avermelhados cor de sangue seu nariz era parecido com o de um focinho de cachorro e seus dentes pareciam cerras pontiagudas. Ele olhou para o meu pai e soltou um berro rouco e apavorante em seguida o puxou e o arremessou para fora do carro com uma força extraordinária.
Seu corpo rolou pelo asfalto como se fosse um boneco de pano sem vida. Eu imediatamente apontei a luz da lanterna na direção daquele monstro bizarro, porém aquilo era um problema, pois os dois seres encapuzados que eu estava detendo agora estavam livres. A situação estava ficando a cada segundo que passava mais sufocante.
Seria burrice se eu sair do carro com a lanterna para ir ajudar o meu pai pensei comigo mesmo, pois os seres iriam invadir o carro e pegar Jayne, eu não tinha o tempo como meu aliado, em alguns instantes aqueles outros seres iriam para cima do meu pai, eu tinha que fazer alguma coisa. Por um golpe de sorte eu abri o porta-luvas do carro com uma mão enquanto segurava a lanterna que matinha o ser ocupado com a luz. Foi então que para minha surpresa havia uma coisa que poderia salvar a vida do meu pai dentro daquele porta-luvas.
Capítulo 10: O fim está próximo...
Por um golpe de sorte eu abri o porta-luvas do carro em meio ao desespero. Foi então que para minha surpresa havia uma coisa que poderia salvar a vida do meu pai dentro daquele porta-luvas.
Eu não tinha certeza se sabia usar aquilo, mas o tempo se esvaia por entre os meus dedos, era uma arma, um 38 para ser mais especifico. Estava carregado com as seis balas, de fato era suficiente mesmo que eu errasse um ou dois tiros.
Eu apontei a arma bem na cabeça do ser que berrava na porta do carro e sem hesitar engatilhei e disparei. O tiro foi certeiro fazendo-o cair no chão, rapidamente pulei para o banco do motorista e dei a partida no carro, quem disse que vídeo-game não é útil? Acelerei cantando o pneu e fui em direção a onde estava o meu pai.
Ouvi um barulho seguido de um estrondo em cima do carro, com certeza era algum daqueles seres que havia pulado sobre o carro. Freei o carro ao lado de onde estava meu pai, fiquei alguns segundos tomando coragem para sair do mesmo e enfrentar tudo aquilo. Olhei para Jayne ela estava desacordada com seu rosto delicado sobre o banco.
Abri a porta e posicionei a lanterna abaixo da arma para apontar junto com a arma e atrapalhar aqueles seres, respirei fundo e sai... É impressionante como em situações de desespero nós seres humanos buscamos forças que pensávamos não ter para enfrentar nossos medos e problemas. Essa força brota principalmente por termos alguém para proteger e nos apoiar nas horas mais difíceis, quantas vezes eu escutei histórias de pessoas que haviam superado seus próprios limites para proteger alguém que amavam muito, eu estava experimentando aquela sensação, era com se não houvesse barreiras intransponíveis para mim naquele momento.
Eu sai, e como se fosse câmera lenta enxergava aqueles três seres restantes olhando para mim com todo o ódio possível, eles berravam a plenos pulmões, porém eu não os podia escutar. Dois estavam nas laterais do carro e o outro em cima do mesmo. Eu apontei a arma para o que estava em cima do carro e disparei. Parecia que cada segundo havia se tornado cinco e eu pude ver lentamente seu corpo ser atingido pela bala e cair rolando pela lateral já sem vida.
Sem pensar duas vezes apontei a arma para outro ser e disparei derrubando aquele monstro cheio de ódio no chão, porém minha sorte havia se esgotado e o ultimo que sobrara já estava pulando na minha direção. Com uma agilidade absurda ele me agarrou pelo pescoço e começou a me estrangular, tudo foi ficando lentamente escuro.
Você acredita em destino? Ou tudo não passa de probabilidades aceitáveis em um mundo de possibilidades? Você é dono da sua vida, ou tudo já esta escrito em algum fragmento de estrela que brilha por você na imensidão do céu?
A sua felicidade.
A sua desgraça.
Um sorriso um choro, uma alegria e uma decepção.
Tudo já foi escrito, ou você simplesmente é a própria causa da sua vida, você é seus próprios méritos?
Vocês são as suas próprias oportunidades de vida que se alimentam da esperança e da curiosidade que é a vida?
Você é dono de seus próprios sonhos, da sua própria liberdade, dos seus próprios sentimentos?
Eu acredito que...
Enquanto tudo ia ficando escuro eu observei o olhar daquele ser e de fato ele era diferente daqueles que eu havia encontrado no meu quarto. Esses que eu estava enfrentando agora tinham rosto e expressões, os que estavam no meu quarto tinham  rostos iguais há humanos porem acinzentados sem expressões e olhos, eram diferentes.
Enquanto eu observava o olhar daquele monstro eu pude penetrar em suas lembranças de forma semelhante ao que havia acontecido comigo anteriormente. Eu vi um homem brigando com a filha por algum motivo e em seguida brigando com a mulher. Quando olhei novamente para os olhos daquele monstro por um momento pensei ter visto lágrimas, mas quando pisquei notei que era minha imaginação.
Eu já estava sem forças estava à beira da morte, então juntei o resto das minhas energias e dei um tiro cego que acertou as costelas daquele ser, que caiu no chão aos berros, um remorso me invadiu o coração, sem opções dei um tiro para acabar com o sofrimento daquele ser.
Eu estava começando a entender uma parte de tudo aquilo que havia acontecido, faltavam algumas respostas, porém tudo estava começando a ficar claro mostrando uma fagulha de esperança que talvez pudesse iluminar toda aquela escuridão...
Capítulo 11: O que está por dentro foi colocado para fora.
Meu pescoço estava vermelho com alguns arranhões devido à força daquele ser que havia tentado me estrangular. O céu continuava vermelho no centro seguido de relâmpagos de mesma cor. Eu me sentia mais maduro de alguma forma, me sentia mais capaz.
Peguei meu pai que estava inconsciente e o carreguei até o carro onde o acomodei no banco do passageiro. Ajeitei-me e dei partida no carro, dentro do porta luva havia uma caixa com balas para o 38, só havia restado uma no tambor da arma então resolvi recarregar caso algum imprevisto acontecesse.
Eu não sabia para onde ir e não era o melhor dos motoristas, estava com algumas dúvidas em minha cabeça. Mas o que eu mais temia era que aparecessem mais daqueles seres, então resolvi ir para mais longe do centro da cidade. Enquanto dirigia notei que pelas ruas e calçadas haviam mais corpos de pessoas por todos os lados com o mesmo aspecto que eu havia visto antes, com manchas escuras e rosas negras que brotavam de seus peitos na altura do coração como se estivessem enraizadas lá mesmo. Resolvi então estacionar o carro em uma rua que estava praticamente vazia e silenciosa.
O meu celular estava com pouca bateria, foi então que repentinamente me lembrei da mensagem que havia recebido mais cedo. Sem hesitar abri ela e li novamente:
Pense coisas boas, ñ ha como salvar as pessoas que vc ama, somente o coração de cada uma pode salva-las do perigo que esta mais próximo do que cada um de nós imagina, evite sentimentos como ódio e raiva e talvez tudo ficará bem...Foi isso que escapou do diário. Até mais. P.S Não ligue as luzes e em momentos de desespero olhe para o alto ^^                         REMETENTE: Desconhecido
Aquelas palavras pareciam fazer sentido de alguma maneira, mas quem poderia ter me mandado aquela mensagem? Eu estava intrigado e ao mesmo tempo perdido, pois não sabia o que fazer. Fui até o banco de trás ver como Jayne estava, sentei ao lado dela e fiquei a observando por algum tempo quando algo peculiar me chamou a atenção. Uma mancha escura percorria todo o seu ante-braço, aquilo me gelou os ossos e alma. Era a mesma mancha que estava tomando as pessoas atiradas pela ruas. Virei seu corpo, pois ela estava de bruços e em seu peito uma rosa negra pequena crescia a passos rápidos pelo jeito.
Parecia mentira, não podia ser verdade, quando meu pai havia colocado ela dentro do carro não havia nada daquilo. Tudo se mostrava como um grande pesadelo, eu sinceramente mais do que nunca tinha vontade de acordar e ter certeza que tudo aquilo não passava de um sonho. Queria poder fechar os olhos e esquecer o mundo e todos os meus problemas e medos.
Algumas lágrimas encheram os meus olhos e rolaram sem destino pelo meu rosto, eu sentia vontade de desistir, mas ainda tinha que encontrar minha mãe e meu irmão. Olhei a mensagem no celular novamente e prestei atenção nas ultimas palavras que diziam para olhar para o alto.
Tomando muito cuidado para não fazer barulho sai do carro e fiquei algum tempo olhando para os prédios para ver se encontrava alguém ou algum sinal, provavelmente quem mandou aquela mensagem estava pensando nisso. Porém eu não achava nada, foi então que algo peculiar me chamou a atenção. Enquanto olhava para o céu em meio aquela escuridão que depois dos relâmpagos havia se tornado menos densa, notei uma única e solitária estrela no céu. Na verdade o céu estava todo coberto por nuvens e aquela massa escura, porém existia um circulo exato no céu que mostrava além das nuvens permitindo ver aquela única estrela.
Uma estrela ao sul da cidade, fiquei algum tempo pensativo avaliando tudo que já tinha acontecido e que poderia acontecer, decidi então eu não tinha nada a perder, resolvi entrar no carro e seguir na direção daquela estrela, talvez eu encontrasse algo. Meu pai continuava desacordado, ele não estava ferido, tinha apenas alguns arranhões nos braços, mas nada de grave.
Dei a partida no carro e fui dirigindo com cautela sempre na direção da estrela, cuidando se nenhum monstro daqueles iria pular em minha direção de algum beco escuro e me surpreender. Pelas ruas haviam mais pessoas no mesmo estado de antes e agora Jayne estava assim também. Eu queria poder ajudar ela de alguma forma, mas a minha única esperança naquele momento era encontrar quem havia mandado a mensagem.
As luzes do farol estavam baixas, já que eu não pretendia chamar a atenção de nada e ninguém, talvez por esse motivo a mensagem dissesse para não acender as luzes, pois pelo que eu havia notado ao mesmo tempo em que as luzes incomodavam esses seres chamava muito a atenção aos que estavam mais longe, era como uma faca de dois gumes.
Como se fosse o som de uma bomba dentro de uma silenciosa igreja escutei um grito agonizante que parecia vir de algumas quadras perto de onde eu estava. Era o grito de uma pessoa se afogando no desespero, em seguida escutei os berros aterrorizantes daqueles monstros, e pelos sons pareciam ser vários.
Eu continuei dirigindo com extrema cautela tentando ao máximo evitar chamar a atenção. Repentinamente o carro parou de funcionar com desligamento súbito do motor. Eu instantaneamente parei junto com o motor do carro. Eu estava dentro de um carro com o meu pai inconsciente e a garota que eu amo no meio de uma rua que parecia ter sido virada de cabeça para baixo tamanha era a sujeira e a bagunça. Ao fundo eu escutava rosnados quase que demoníacos misturados a gritos de pessoas. – O que eu faço agora? – Perguntei para mim mesmo com o nervosismo que começava a aflorar em minha pele.
Podia-se escutar claramente o som do vento serpenteando envolta aos carros abandonados e prédios daquela rua, aquele vento quase que conseguia conversar com quem estivesse ali em meios a sopros que mais pareciam susuros de advertência. Eu não podia perder tempo então abri a porta do carro cuidadosamente e sai para verificar o motor. Era difícil de enxergar então decidi usar a luz do celular que não era muito chamativa. Eu nunca entendi nada de mecânica, acho na verdade que só estava ali na frente daquele motor por desencargo de consciência mesmo. Dei algumas olhadas, mas parecia inútil, passando a luz mais para a lateral notei que alguma coisa estava solta. Iluminei o local e vi que era o conector da bateria que havia escapado.
Subitamente escutei um berro macabro que vinha do final da rua. Era um daqueles monstros que havia me visto, e eu com toda a minha inteligência havia deixado a arma dentro do carro. Rapidamente comecei a tentar conectar o cabo à bateria, porém sem sucesso. O monstro vinha correndo com toda sua velocidade e destreza. Com golpe de sorte consegui conectar o cabo quando faltava uns 15 metros para ele me alcançar.
Entrei no carro dei a partida e acelerei o Maximo que pude, porém o monstro não desistiu facilmente e continuou correndo atrás do carro por um tempo, até que quando eu estava pensando que esses monstros eram incansáveis o bicho ficou para trás fatigado.
Continuei dirigindo para o sul seguindo a posição daquela estrela no céu.A estrada pela qual eu estava dirigindo já havia saído da cidade, logo podia-se ver a mesma ao longe. Em volta só podia se ver campo e fazendas até que uma coisa me chamou a atenção. Havia uma espécie de moinho com um letreiro escrito. “se você olhou para o alto aqui é o seu destino”
Entrei na estrada de chão batido e estacionei na frente daquela construção que parecia um moinho. As portas do local se abriram e um homem saiu lá de dentro. Ele veio até a janela do carro e olhou por algum tempo para os meus olhos. Era um velho de cabelos brancos e bigode que de alguma forma me lembrava o Albert Einstein.
Ele me convidou a entrar, eu sem pensar duas vezes aceitei o convite e carreguei Jayne para dentro do lugar enquanto ele carregava meu pai. O local era de formato redondo iluminado à velas, haviam mesas com várias parafernálias, desde rádios até notebooks, havia também uma escada na lateral que levava aos outros andares daquela torre.
Quando larguei Jayne em um soma perto de uma das mesas o velho homem pareceu perplexo ao ver as manchas e a rosa que saia do seu peito e parecia estar maior do que antes. Ele largou meu pai em um colchão de solteiro que estava no chão e veio em minha direção claramente desesperado.
- Por que você trouxe ela junto? – Perguntou ele nervoso.
- Ela é uma amiga, eu a salvei daqueles seres, não podia deixar ela lá!
- Isso... Isso não pode ficar assim, vamos ter que abandonar ela ou matar.
- Mas por que isso? Ela não é um animal é um ser humano! – Respondi eu claramente ressentido.
- Ela vai acabar virando  um monstro daqueles! Aqueles monstros que você viu lá fora são pessoas e as pessoas que você viu com manchas e rosas negras vão virar aqueles monstros! – Disso o velho parecendo emocionado com alguma lembrança pessoal.
- Mas como?
- Alguma coisa escapou do diário e fez com que tudo que existe de ruim dentro da natureza e do coração dos seres humanos fosse colocado para fora. - Disse o velho atormentado.
Aquelas palavras repentinas do velho pareciam confusas para mim, porém me atingiram como um raio me deixando sem palavras... O que afinal estava acontecendo com o mundo?
Se o destino existe eu acho que não valha apena lutar pelo que sonhamos e acreditamos.
Se o destino existe talvez seja inútil amar, sentir, experimentar, viver e até respirar.
Talvez se o destino exista seja mais fácil simplesmente desistir de viver e deixar acontecer...
Eu acredito que...
Capítulo 12: Um abraço de amor e esperança.
- O que você quer dizer com isso? – Perguntei abalado ainda com o que havia ouvido.
O velho parecia atordoado com tudo, sentia como se ele estivesse à beira da loucura. Respirei fundo e lentamente perguntei novamente para ele o que significava aquele papo de a natureza humana ter escapado para o lado de fora. Ele me olhou com os olhos arregalados e foi até a mesa onde havia uma jarra cheia de café, ele se serviu, bebeu alguns goles e pareceu se acalmar. Era estranho parecia que de alguma forma ele tinha se dado conta da realidade que o cercava.
- Eu vou lhe contar, mas você tem que me prometer que depois vai tirar essa garota daqui. – Disse o velho de forma a impor aquilo.
Eu não sabia o que ele iria me contar, mas não pretendia abandonar Jayne por pior que fosse o estado dela, porém menti para ele e concordei com sua condição. O velho me olhou de uma forma estranha me analisando, deu mais alguns goles e finalmente começou a falar já mais calmo.
- Eu me encontrei com um daqueles seres de rosto pálido e sem olhos quando estava deixando minha casa para vir até aqui e quando olhei para o rosto senti como se a minha alma houvesse mergulhado em um poço de verdades atormentadoras. Depois de algumas visões e sussurros que latejavam na minha cabeça eu finalmente comecei a entender a verdade. Essas pessoas que você viu pela rua com as manchas e as rosas negras no peito são pessoas que perderam a esperança na vida e em elas mesmas. Quando perdemos a esperança nossos corações se enchem de escuridão. Essa escuridão fez com que as pessoas lentamente fossem perdendo todas as suas esperanças de que algo bom pudesse acontecer e por alguma razão essa escuridão foi colocada para fora e está transformando as pessoas.
- Mas de onde surgiu essa escuridão?
O velho me olhou novamente daquela forma que parecia analisar cada movimento meu. Ele estralou os dedos tentando relaxar. – Quando eu mergulhei dentro da mente daquele ser eu vi uma mesa e um diário. No momento em que vi aquilo eu me lembrei de uma antiga teoria conspiratória que dizia que ao longo dos anos um bispo da igreja descreveu todas as guerras e atos inescrupulosos cometidos pelos seres humanos para no dia do julgamento final entregar para Deus, antes de morrer o bispo confiou esse diário a outro bispo para registrar os acontecimentos posteriores a sua morte e assim por diante até o fim dos tempos.
- Mas Deus é onipresente e onipotente, por que ele precisaria de um diário? – Perguntei curioso.
- não sei te responder isso, mas algum motivo deve ter, ou tudo não passa de uma lenda mesmo.
- Como você chegou nesse moinho velho? – Continuei eu com minha enxurrada de questões.
- É uma herança de família, eu costumava vir para cá no tempo da faculdade para estudar e fazer meus trabalhos, por ser um lugar calmo e afastado da cidade. – Disse o velho em meio a alguns goles de café.
E parei pensativo por alguns instantes tentando encaixar os fatos em minha mente - Como que pode aparecer aquela única estrela no céu?
- Eu não sei exatamente, eu tive um sonho estranho dois dias atrás que me mostrava esse local com a abertura nas nuvens e na escuridão, talvez tenham mais estralas aparecendo, eu não cheguei a observar o céu completamente, mas deve ter um significado. Então resolvi mandar aquele código para que as pessoas pudessem me achar.
- Mas por que em código?
- Eu não sei do que se trata aqueles seres sem olhos, eles me viram quando acendi uma lanterna em casa, é uma coisa que denuncia onde você esta e ao mesmo tempo incomoda eles, então mandei a mensagem no site de lista de números da cidade para todos os números que constavam lá e já dei a advertência da luz. Tudo em forma de um código simples, porque eu não sei como é a inteligência daqueles seres.
Tudo fazia sentido, provavelmente Jayne enquanto fugia daquele seres quando a encontramos já havia perdido as esperanças e seu coração foi engolido pela escuridão que tomou conta da cidade. Eu estava com um buraco dentro do meu coração, pois querendo ou não eu matei seres humanos, por isso havia visto as lembranças daquele monstro que tentou me estrangular, que na verdade era uma pessoa, um senhor que havia tido muitos problemas, brigas e desentendimentos durante sua vida, e isso deixou marcas de rancor em sua alma e em seu coração.
Eu estava vivo até aquele momento porque sempre tive esperança nas pessoas que amo, eu tive a certeza naquele momento que quando as pessoas perdem a esperança em seus sonhos em suas vidas elas definitivamente viram uma casca vazia que vagam pela terra. Era o que estava acontecendo com todas as pessoas. Seria um castigo por tudo que o ser humano fez de mal ao seus semelhantes?
Se o destino existe a esperança é algo inútil.
Se o destino existe a esperança não passa de mera superstição.
Se destino existe, a esperança não passa de uma palavra bonita para se iludir com o destino irremediável da sua vida.
Eu acho que...
Eu me levantei e fui até onde estava Jayne deitada e a abracei com todas as minhas emoções transbordando.
- Eu não vou te abandonar, vou estar com você até o final por que eu acredito no que eu sinto por você, eu acredito que tudo ficará bem. – Disse eu bem baixinho em seu ouvido esperando que de alguma forma ela pudesse me escutar.
Fui até o velho e perguntei seu nome ele respondeu; Se chamava Boris. Olhei o local e parecia um bom lugar para deixar meu pai e Jayne. – Eu vou até a cidade procurar minha mãe e o meu irmão, quero que o senhor cuide do meu pai e da Jayne.
O velho arregalou os olhos e deu alguns passos para trás. – Essa garota vai virar um monstro daqueles, eu não vou ficar com ela aqui!
- Não ela não vai, eu acredito que ela vai ficar bem, o senhor está perdendo as suas esperanças em tudo, logo o senhor vai virar um deles, acreditar nela vai salvar o senhor, acredite nela e em mim tenha esperança e tudo vai ficar bem.
O velho arregalou os olhos, pois minhas palavras pareceram fazer sentido para ele. – O senhor é formado em que seu Boris? – Perguntei curioso.
Ele ajeitou a garganta com um tossido e respondeu orgulhosamente. – Sou formado em Antropologia, Sociologia e História.
Eu sorri e aquilo fez ele abrir seu primeiro sorriso em muito tempo, pois seus rosto carregava as marcas da tristeza que o tempo traz como sobremesa as nossas vidas humanas. Eu tinha certeza que meu pai e Jayne ficariam bem e ao mesmo tempo sentia que o velho Boris passou a acreditar em mim. Dei a partida no carro e fui em direção à cidade. O céu no centro da mesma continuava avermelhado com clarões igualmente vermelho.
Parecia um cenário apocalíptico, mas eu estava decidido a encontrar minha mãe e meu irmão, eu sentia que podia! Minha mente e o meu coração estavam preparados para vencer a própria escuridão que existia dentro de mim.
Capítulo 13: Além do Bem e do Mal.
Sim, eu estava me sentindo mais maduro de alguma forma as coisas mudaram dentro de mim de um modo positivo. Comecei a pensar se demoraria muito para que o céu se tornasse azul novamente, para que as pessoas saíssem de suas casas, que a leve brisa da primavera retornasse como em todo o ano fazia e tocasse os meus cabelos me fazendo poder respirar em paz.
Eu não era um motorista exemplar, o que eu sabia era devido ao meu pai que me ensinou nas férias de verão quando passei com ele. Mas ainda sim era o suficiente, eu dirigia muito atento observando as ruas, até que cheguei finalmente à avenida principal onde ficava o prédio em que minha mãe trabalhava, e era lá mesmo que o vermelho do céu era intenso e descia imponentemente em forma de um redemoinho junto com nuvens carregadas.
Curiosamente não escutava nenhum som das pessoas transformadas, tudo estava vazio e em silêncio, como que o destino aguardasse por um momento triunfal. Parei o carro e desci com a lanterna e o revolver em punhos.
Entrei no prédio que parecia abandonado e fui procurar minha mãe, havia eletricidade ainda como em boa parte da cidade.
Em alguns momentos da minha vida eu sempre tive o que algumas pessoas chamam de intuição, mas não é bem isso, é como se fosse uma parte de mim que sempre foi mais esperto e me avisava sobre o que fazer. Estranhamente sempre que eu tomava decisões opostas a isso eu simplesmente me ferrava. Pensando mais profundamente nisso eu cheguei à conclusão que eu sempre tive escolhas e mesmo as situações em que eu errei, eu tive a oportunidade de tomar a decisão contrária e talvez tivesse acertado nesses momentos.
Quando eu apertei o botão do elevador eu senti aquele chamado do fundo do meu peito e da minha alma de que eu estava fazendo a coisa errada, porém por mais que tudo me levasse a fugir eu não podia desistir de encontrar minha mãe e meu irmão.
Entrei no elevador, minhas roupas estavam sujas, mas eu nem me importava, aquilo era o de menos. Eu apertei o botão do sexto andar e as portas se fecharam e o elevador começou a se mover lentamente. Primeiro andar... Segundo andar... Terceiro andar... Quarto andar... O elevador sacudiu violentamente, porém eu não senti medo, eu acreditava em algo que eu não sabia descrever com palavras, mas estava no dentro no meu peito.
O elevador começou a se movimentar mais rapidamente, aquele prédio ia até o décimo segundo andar, porém o marcador digital entrou em curto e apagou, até que o elevador parou subitamente e as portas se abriram lentamente.
Era uma sala cinza sem janelas, no centro havia duas poltronas e em uma delas havia alguém sentado, como se estivesse me aguardando. Eu entrei sem hesitar meu coração batia rápido aquela altura, me aproximei e observei quem estava sentado na poltrona. Para o meu espanto era um ser igual ao que eu me deparei no meu quarto, pele pálida sem olhos com apenas um vazio nas orbitas onde deveriam estar os olhos, o resto do rosto era normal e genérico, ele vestia um manto escuro com alguns rasgões.
Ele moveu a cabeça na minha direção, então tive a certeza que ele podia me enxergar mesmo sem os olhos, ele esticou a mão convidativamente na direção da poltrona vazia, me convidando a sentar. Eu estava com a lanterna e o revolver em mãos ainda então me sentia seguro de alguma forma, porém o medo não era hospede do meu coração naquele momento.
Sentei calmamente e fiquei observando aquele estranho ser esperando que alguma coisa acontecesse, foi quando eu fui surpreendido pela voz do ser, que começou a falar.
- Estranho como a vida às vezes parece nos pregar peças não acha? Às vezes parece que tudo vai desmoronar, que Deus nos abandonou.
Eu fiquei em silêncio, não sentia que deveria responder ou dar a minha opinião, então ele continuou a falar.
- Acho que você está cheio de perguntas, abra o seu coração e as despeje para mim, eu sei as respostas para tudo que existe.
Eu ponderei por alguns instantes e então resolvi fazer as perguntas que estavam coçando em minha garganta - De onde veio essa escuridão que tomou conta de tudo, por que tudo isso está acontecendo? – Perguntei não me contendo.
Ele inclinou os lábios para cima o que me pareceu um leve sorriso, em seguida começou a falar. – O que você acha que é a coisa mais poderosa no mundo e no universo?
Eu parei pensativo por algum momento e uma única resposta parecia obvia na minha cabeça, então respondi. – Eu acho que é o amor.
- Eu fiz essa pergunta para muitas pessoas que estiveram sentadas nessa mesma cadeira que você está agora e quase todas elas me responderam a mesma coisa o amor. Eu não entendo por que vocês humanos falam e recorrem tanto ao amor, mas na verdade não sabem o que significa. A coisa mais poderosa no mundo e no universo não é o amor, é o Tempo.
- Mas por que o tempo? – Perguntei chocado.
- O tempo é capaz de moldar as coisas, é capaz de fazer brotar o amor assim como acabar com ele, é capaz fazer nascer e morrer faz idéias amadurecerem, pessoas amadurecerem, faz com que mundos nasçam e acabem, o tempo enche e esvazia as coisas, move montanhas é o responsável pelo inicio e pelo fim de tudo, o sentido em tudo existir está no tempo ele da sentido para tudo que existe o tempo é o propósito das coisas que existem.
Eu estava perplexo como uma coisa tão simples fazia tanto sentido da forma como ele havia dito. Mas a minha pergunta principal ainda não havia sido respondida.
- quem é você exatamente? - Perguntei intrigado.

- Eu sou algo que não é bom nem ruim eu estou além do bem e do mal, sou simplesmente o que sou, diferente de vocês humanos. - Respondeu o ser tranquilamente.

- Você deve estar se perguntando por que eu ainda não respondi a sua pergunta relacionada à escuridão certo? Bom tudo tem a ver com o tempo, vou lhe contar por que tudo isso está acontecendo e onde está sua mãe...