Tudo ao redor
daquele banco é luz. Branca como esta folha de papel (eletrônico).
- Isso é tudo o que
temos a dizer - ele disse.
- É? – ela disse –
Ok.
Ele olhou para os
lados e seu pensamento corria numa velocidade dez vezes maior que o normal. Ela
levantou-se para ir embora.
- Espera... – e
segurou-a pela mão, puxando-a de volta ao bando.
Ela o olhou
rapidamente, arrumou o cabelo atrás da orelha, puxou as mãos para dentro do moletom
roxo e ficou encarando os próprios pés.
- Quando eu te vi
pela primeira vez – ele disse sem olhá-la – tive um sentimento meio extremo.
Sabe? Então eu fiquei te olhando, mas não falei nada. Até que nossos grupos de
amigos convergiram em um único grupo maior. Teve uma hora naquele dia em que eu
pensei que tinha te perdido de vista... Mas não. E quando a gente se viu
novamente, foi você quem falou comigo. E nós falamos muito. E no fim do dia eu
já tinha ciúmes de você. E no fim daquela semana eu já me importava mais com
você do que com a maioria.
Parou pra pensar no
que dizer.
- Aquele primeiro dia pode parecer normal pra maioria das pessoas,
mas não foi como eu me senti. Não que algo parecido já não tivesse acontecido
antes, mas eu acho que... nós fomos educados pra pensar que algo mágico
acontece quando conhecemos a pessoa dos sonhos. Acontece, que de todas as
pessoas que podiam comprovar isso, você foi a última a quem eu daria essa
chance. Eu to falando nesse maldito monólogo, nesse cenário branco imbecil. Sei
lá, talvez eu esteja emotivo demais por que passei a noite toda olhando Grey’s
Anatomy e Six Feet Under. Eu só sei que as coisas estão todas erradas. Que
tudo devia ser mais simples. E ao mesmo tempo que eu reclamo disso, faço parte
do problema chamado Ser Humano. Nós complicamos, idealizamos, agimos por
instinto, estragamos tudo, nos fechamos, nos abrimos demais, na hora errada... nós inventamos que existe uma hora
errada, que não podemos nos abrir demais, que não podemos nos fechar... Somos orgulhosos e egocêntricos!
“Somos escravos da
carne, dos desejos e dos impulsos. E nós idealizamos, por isso às vezes negamos
nossos impulsos. Os condenamos. Se nossa atual existência está atrelada a isso,
pra que negarmos? Pra que idealizarmos um nível de pureza que não é alcançável
por 99,9% das pessoas e assim nos fechamos pra cada uma delas no momento em que
elas fogem ao nosso ideal de “decência”? Não seria mais fácil só aceitar o
pacote completo, e tentar fazer o melhor com o que temos? Se não tivermos um
objetivo inalcançável, temos menos probabilidades de nos frustrar.”
“Ah! Eu sou parte
integrante desse problema todo! Sou “romântico” demais! Eu idealizo muitas
coisas. Não aceito insistir demais nas coisas, o que é quase sempre considerado
um problema sério. E quer saber? Talvez estejam certos. Talvez devamos insistir
mais nas coisas, e não largar na primeira vez em que nos desapontamos. Talvez...
talvez algumas coisas valham a pena, e mereçam que se insista nelas. Procuro
uma perfeição que não existe. Mas você é o mais próximo disso que eu já conheci, quero dizer, pra mim, seus defeitos são razoavelmente aturáveis! E eu não sou qualquer um também! Eu to te dizendo agora, vale a pena insistir em mim. O futuro me parece mais promissor quando penso em você nele, mesmo que talvez, eu esteja novamente, idealizando. Bom, que se foda, acho que aceitar isso faz parte de aceitar o pacote completo..."
- Obrigado
pela parte de razoavelmente aturáveis, eu acho, mas diz aí... É ótimo falar
essas coisas não é? – ela disse.
- Com certeza!
- Então por que
nunca me falou?
- Isso é tudo o que temos a dizer – ele disse.
- É? – ela disse –
Ok.
Ele olhou para os
lados e seu pensamento corria numa velocidade dez vezes maior que o normal. Ela
levantou-se para ir embora. E foi.