sábado, 5 de maio de 2012

Ramon


Dor.

  Uma única palavra pode descrever coisas muito diferentes. Mas nenhuma de suas definições é uma coisa boa. A não ser que você seja masoquista.

  Ramon saiu pra trabalhar. Na rua, a barulheira da cidade. Sua expressão era de total tristeza. Da mais profunda dor. Mas as pessoas no trem não notaram. Chegou ao prédio da empresa e entrou no elevador. Estranho... não tem música no elevador para Ramon hoje.

  As pessoas que o conheciam, também não notaram, ou se notaram, não falaram nada.

  Seu chefe largou uma pilha de relatórios e planilhas sobre sua mesa para serem organizadas. Ele não disse nada, só puxou os papéis do topo, que estavam presos por um clipe, que ele retirou. Passou os olhos pelo papel, digitou um pouco e largou o papel em cima do teclado.

  Recostou-se na cadeira. Toda essa atitude inexpressiva não estava funcionando. Guardar aquilo dentro de si não estava ajudando. Foi até a janela. Sua sala ficava no décimo segundo andar. A vertigem de olhar diretamente para baixo era... tentadora.

  Em todo caso, já se sentia despencando mesmo. Sempre teve um desejo de cair. Cair e continuar caindo. Pra sempre. Tinha esquecido esse desejo por um tempo.

  Dor.

  Será que dói morrer?

  Será que dói mais do que viver?

  Ramon olhou pra pilha sobre a mesa. Qual a finalidade, a propósito? Um macaco bem treinado podia fazer o que ele fazia... ou um robô.

  Um colega sorridente entrou na sala como um furacão. Convidou-o para um happy hour depois do expediente. Ramon negou educadamente. Tinha um compromisso, dissera.

  Beber hoje seria o suicídio de amanhã...

  Durante o dia ele trabalhou, foi ao banheiro, à salinha de café, à sacada. Invisível. Mudo. Automático.

  No fim, acabou indo até o bar com os colegas. Bebeu um pouco e sentiu-se melhor. Bebeu mais e sentiu-se ainda melhor. Mais e começou a sentir-se mal, mas ainda sorridente e falando bobagens.

  Deu tchau pros colegas e foi até um beco ao lado do bar, devolver o que tinha ingerido. Não lembra dos detalhes até ir pra cama, mas acordou no outro dia e já estava de banho tomado. Bom, pensou, preciso ir trabalhar.

  Não, não precisa. Hoje é sábado.

  Saiu de casa assim mesmo. Não havia sons na cidade para Ramon hoje. A noite passada definitivamente não ajudou. Hoje ele queria morrer mesmo. E ainda estava com uma puta dor de cabeça.

  Sentou-se em um banco no parque, em frente a um lago. A imagem era paradisíaca, profética, Nova-Iorquina dos filmes mais felizes. Mas infelizmente, não havia beleza no mundo de Ramon hoje.

  Será que é possível sentir dor até não sentir mais nada?

  Ramon esperava que sim.

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