terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Naqueles Dias


  Naqueles dias, não era difícil achar grupos de pessoas brincando e festejando ao redor de fogueiras na beira da praia, nos subúrbios ou mesmo dentro dos bares bebendo como se não houvesse amanhã. E dentro de alguns dias talvez não houvesse mesmo.

  Podia-se chegar para uma pessoa na rua e puxar assunto, pois não havia o que temer e mesmo que houvesse, tudo o que antes era interessante, não era mais e as pessoas importavam. Não as rotinas inúteis e as regras sociais e modos de agir em público.

  O garoto andava por aí, hora de carro, hora correndo e gritando enquanto sentia o cheiro de maresia e abraçava e era abraçado. Não havia motivo para ter dor de cabeça, nem hoje nem em qualquer dia. O pânico só dura um tempo, e depois tudo fica tranquilo de novo. Talvez esta seja a melhor serventia para a facilidade que o ser humano tem de se acomodar.

  Pena que, por causa desta mesma característica, as pessoas esperaram tanto para descobrir... o que descobriram naqueles dias.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Roda - Início


Caressil é uma cidade pequena, do interior do interior, mas que surpreendentemente, por esse motivo, fica ao lado de Great Caressil (não muito imaginativo...) uma das maiores metrópoles do país.

  Em Caressil, vive um rapaz chamado Jonathan xxxxxxxxxx, cujo sobrenome não é importante, e a quantidade de “X” não representa nenhum número de letras específico, boa sorte tentando adivinhar. Ok, acontece que Jonathan, sendo um morador de uma cidade tão pequena e com uma população tão simplória, como era a população de Caressil, também era simplório. Fato que era agravado pela pouca frequentação... essa palavra existe? Certo, baixa freqüência de visitas que prestava a Great Caressil. Mas ele não é tão simplório quanto a maioria das pessoas que moram na cidadezinha. Tem um hábito de leitura bastante saudável, que adquiriu muito jovem (bom, ele continua sendo muito jovem).

  O importante a saber sobre ele, é que ele é sim, um pouco simplório. Ou sei lá, talvez não, talvez seja apenas uma impressão causada pelo seu excesso de idealismo e pelo seu jeito sonhador. Talvez ele saiba mais do que todos nós, vai saber? São muitos “talvezes”.

  Outra coisa importante a se saber sobre Jonathan, é que ele é, desde sempre e para sempre, apaixonado por sua amiga Laura. Detalhes dessa característica são o fato de ele nunca admitir, o de seu melhor amigo, Joseph, saber disso com toda a certeza mesmo assim, e também, o de ela corresponder esse amor desde a primeira série. Ok, este último não pode ser considerado um detalhe, mas é claro que ele não sabe ainda que está perdendo tempo.

  Com isso dito, já deve ter ficado claro para você, leitor – mesmo que eu não tivesse mencionado uma ou duas vezes - que estamos diante de uma história protagonizada por sonhadores, inocentes, idealistas e simplórios. Uns mais que os outros. O tipo de pessoa, que eu como um contador de histórias, mais gosto, e mais admiro. O tipo de pessoa que eu mais invejo.

  Mas não pense que a história é inteira simplória. Ela é sim, em alguns pontos, deliciosamente inocente, como se tivesse saído da cabeça de uma criança levemente mais madura que o normal (na verdade saiu...), e que cresceu vendo muitas comédias românticas sobre amores platônicos (também confere). E a história não é exatamente centrada nos romances. Também acontecem maluquices, um cara sinistro aparece, pessoas andam de bicicleta enquanto tentam matá-las, e dizem; dizem, que no final tem uma reviravolta previsível que tem a ver com córneas.

  Ah, já ia esquecendo, tudo começa por causa de um clarão no campo, e um livro muito louco.

sábado, 25 de agosto de 2012

Nada como um banho.


Nicolas estava andando pelo parque em uma tarde de verão. O calor era imenso, parecia extrair toda a água, força e animo que existia em seu corpo. Estava indo para o trabalho, como não ficava longe de sua casa resolveu ir a pé para se exercitar um pouco e diminuir a culpa pelos hambúrgueres que havia comido durante a semana. Na verdade não passava de uma ilusão essa idéia, mas a sensação de enganar a si mesmo tornava sua mente um pouco menos nebulosa, mais calma e descansada.

Ele se sentia estranho, por algum motivo não se lembrava que dia da semana era. Talvez aquele ritmo repetitivo aliado ao calor houvesse evaporado a sua noção de tempo. O parque estava cheio. Pessoas deitadas no gramado tomando sorvetes que travavam uma batalha praticamente perdida contra o calor. Outras pessoas liam o livro e o usavam como um adorno curioso para se abanarem e espantar o calor excessivo.

Nicolas sentia uma angústia e inveja ao mesmo tempo, queria poder desfrutar um pouco daquele mesmo lazer que as pessoas ali desfrutavam. Porém como era um simples auxiliar de escritório, não despojava desse tipo de privilégio.
Suas pernas doíam já mesmo pelo pouco que havia andado, talvez fosse sintomas do seu sedentarismo pensou ele consigo. O mais estranho era andar com aquela dor e parecer não vencer o trajeto até o escritório já tendo uma pitada de arrependimento por desafiar o sol em um dia como aquele.

Repentinamente Nicolas ouviu um barulho de algo parecido com um sino soar bem baixo. Parou e olhou para os lados assustado. Seria um carro de policia ou dos bombeiros correndo contra o tempo ao socorro de alguém? Se questionou. Continuou andando, porém o som ia aumentando gradualmente. As pessoas a sua volta pareciam não se importar com aquele barulho que já podia ser o sinônimo da palavra infernal. O som agora era tão alto que fazia seu café da manhã vibrar dentro do estômago. Seus tímpanos doíam de forma absurda e extremamente desagradável. As pessoas continuavam seus afazeres como se nada estivesse acontecendo. Os edifícios começaram a tremeluzir até parecerem ser feitos de algum tipo de macarrão recém cozido balançando para os lados.

Nicolas levantou-se de um pulo da cama com uma respiração ofegante. Tinha sido um sonho tudo aquilo. No criado mudo ao lado da cabeceira seu despertador tocava escandalosamente. O mesmo som que havia escutado em seu sonho.

Ele apertou o botão para acabar com todo o alvoroço e jogou sua cabeça sobre o travesseiro e ali ficou pensando sobre o sonho que tinha tido. Um Sonho tão comum que era tão tedioso quanto se tivesse vivido aquilo realmente. Depois de reunir muita força de vontade resolveu levantar para tomar café e ir trabalhar. Agora, porém ele sabia o dia da semana era uma terça-feira de verão tão calor quanto em seu sonho.

A grande diferença entre o sonho e a realidade era que no parque tudo era mais agitado e caótico. Nicolas se sentia estranho nos últimos dias. Sentia como se seu corpo fizesse tudo de forma automática, não tinha o prazer de mover uma perna por vontade própria. Quase que como um escravo suas pernas o levavam a destinos que no fundo ele não desejava. Seus pulmões respiravam um ar fumacento e podre da cidade grande. Seus olhos enxergavam uma multidão de placas e inconscientemente liam anúncios e seus respectivos telefones de serviços. Nicolas sentia que ele havia se perdido em algum momento do qual não podia se lembrar mais. Agora seu corpo havia se tornado um escravo do dia-dia. Guiado por algo sem um propósito real.

Após soar devido ao calor e ser sujo pela poeira de um vento forte que era o cartão de visitas de uma forte chuva que se aproximava da cidade ele chegou ao seu trabalho como todos os dias.

Nicolas Trabalhou naquele dia com seus dedos que já tinham quase que vontade própria e fazia o trabalho no modo automático. Quando o dia de trabalho havia acabado e uma boa dose de chuva já havia caído sobre a cidade restava à lama respingar nas calças e braços de Nicolas. Ele havia experimentado apenas mais um dia de trabalho, lhe restava chegar em casa para sonhar que estava indo para o trabalho.

Ao chegar em casa a única coisa que podia aliviar tudo de ruim que o agoniava era um bom banho quente. Após se despir e entrar no Box girou o registro do chuveiro e aquela água quente desabou por sobre seu corpo como uma espécie de anestésico para o corpo e para a alma. Por algum tempo ele ficou imóvel embaixo da água. Seus pensamentos pareciam ter se exilado em algum lugar inacessível. Não havia sentimentos, não havia reação, talvez o trabalho o escravizasse a tal ponto que não lhe restava nada além de vagar como um animal qualquer que obedece sem saber o porquê.

Nicolas não aguentava mais, todo dia uma profunda tristeza e desanimo o atingiam na hora em que seu despertador tocava. Sentia vontade de abandonar tudo e tentar encontrar o seu eu que havia perdido já fazia algum tempo.

Enquanto tomava banho percebeu que seu corpo estava desgastado, cansado, exausto ao máximo de tantos anos pontuais naquela empresa. Ele esfregava a esponja na pele e parecia que não sentia nada. Uma raiva misturada com angustia brotou dentro de seu peito resultado de um acumulo de anos em prol de uma vida que não tinha sentido e tão pouco valor. Foi então que de tanto esfregar aquele corpo que ele já não sabia mais quem era, algo inusitado aconteceu. Um pedaço da carne do seu braço se soltou. Curiosamente não havia sangue, apenas o tom vermelho comum da carne. Assustado e tomado por uma cólera de medo e raiva continuou a esfregar seu corpo e logo outros pedaços começaram a se soltar e cair no Box do banheiro. Enquanto a água quente o atingia e ele tomava banho quase todo o seu corpo estava em pedaços jazidos no chão. Então Nicolas levantou a cabeça e rasgou seu rosto que parecia mais uma máscara do que um rosto de verdade.

Ele não encontrou a morte como era de se esperar, pois algo de estranho aconteceu. Ao sair do Box e se olhar no espelho se deparou com uma figura um tanto quanto surpreendente. Ele era agora um ser de pele verde com seis olhos e uma boca vertical. O ar quente do banheiro o tacava e desta vez Nicolas o podia sentir, como nunca antes pode. Ele tinha sensações verdadeiramente suas. Notou então que a forma do espelho tremeluzia como se não fosse solida da maneira como enxergava antes, parecia agora feita de gelatina ondulando continuamente.

Ele se virou e viu a porta ondulante que agora se distorcia como uma espécie de redemoinho, sem hesitar abriu a porta e viu algo que fez seus verdadeiros lábios sorrirem. Era um mundo novo que nunca tinha percebido, era um mundo no mesmo lugar no velho porem vibrando em uma outra freqüência. Ele entrou saiu por aquela porta para se deslumbra com aquele novo mundo novo e nunca mais foi visto pelos amigos e pela família. Nicolas era agora livre pra sentir de verdade.


Algumas outras histórias dizem que ele passou a dormir de verdade e seus sonhos eram em mundos de cores e formas que vagam pelo infinito.

Escrito Por: Édiner R Silveira

terça-feira, 8 de maio de 2012

O Monólogo Mental Branco


  Tudo ao redor daquele banco é luz. Branca como esta folha de papel (eletrônico).

  - Isso é tudo o que temos a dizer - ele disse.

  - É? – ela disse – Ok.

  Ele olhou para os lados e seu pensamento corria numa velocidade dez vezes maior que o normal. Ela levantou-se para ir embora.

  - Espera... – e segurou-a pela mão, puxando-a de volta ao bando.

  Ela o olhou rapidamente, arrumou o cabelo atrás da orelha, puxou as mãos para dentro do moletom roxo e ficou encarando os próprios pés.

  - Quando eu te vi pela primeira vez – ele disse sem olhá-la – tive um sentimento meio extremo. Sabe? Então eu fiquei te olhando, mas não falei nada. Até que nossos grupos de amigos convergiram em um único grupo maior. Teve uma hora naquele dia em que eu pensei que tinha te perdido de vista... Mas não. E quando a gente se viu novamente, foi você quem falou comigo. E nós falamos muito. E no fim do dia eu já tinha ciúmes de você. E no fim daquela semana eu já me importava mais com você do que com a maioria.

  Parou pra pensar no que dizer.

  - Aquele primeiro dia pode parecer normal pra maioria das pessoas, mas não foi como eu me senti. Não que algo parecido já não tivesse acontecido antes, mas eu acho que... nós fomos educados pra pensar que algo mágico acontece quando conhecemos a pessoa dos sonhos. Acontece, que de todas as pessoas que podiam comprovar isso, você foi a última a quem eu daria essa chance. Eu to falando nesse maldito monólogo, nesse cenário branco imbecil. Sei lá, talvez eu esteja emotivo demais por que passei a noite toda olhando Grey’s Anatomy e Six Feet Under. Eu só sei que as coisas estão todas erradas. Que tudo devia ser mais simples. E ao mesmo tempo que eu reclamo disso, faço parte do problema chamado Ser Humano. Nós complicamos, idealizamos, agimos por instinto, estragamos tudo, nos fechamos, nos abrimos demais, na hora errada... nós inventamos que existe uma hora errada, que não podemos nos abrir demais, que não podemos nos fechar... Somos orgulhosos e egocêntricos!

  “Somos escravos da carne, dos desejos e dos impulsos. E nós idealizamos, por isso às vezes negamos nossos impulsos. Os condenamos. Se nossa atual existência está atrelada a isso, pra que negarmos? Pra que idealizarmos um nível de pureza que não é alcançável por 99,9% das pessoas e assim nos fechamos pra cada uma delas no momento em que elas fogem ao nosso ideal de “decência”? Não seria mais fácil só aceitar o pacote completo, e tentar fazer o melhor com o que temos? Se não tivermos um objetivo inalcançável, temos menos probabilidades de nos frustrar.”

  “Ah! Eu sou parte integrante desse problema todo! Sou “romântico” demais! Eu idealizo muitas coisas. Não aceito insistir demais nas coisas, o que é quase sempre considerado um problema sério. E quer saber? Talvez estejam certos. Talvez devamos insistir mais nas coisas, e não largar na primeira vez em que nos desapontamos. Talvez... talvez algumas coisas valham a pena, e mereçam que se insista nelas. Procuro uma perfeição que não existe. Mas você é o mais próximo disso que eu já conheci, quero dizer, pra mim, seus defeitos são razoavelmente aturáveis! E eu não sou qualquer um também! Eu to te dizendo agora, vale a pena insistir em mim. O futuro me parece mais promissor quando penso em você nele, mesmo que talvez, eu esteja novamente, idealizando. Bom, que se foda, acho que aceitar isso faz parte de aceitar o pacote completo..."

  - Obrigado pela parte de razoavelmente aturáveis, eu acho, mas diz aí... É ótimo falar essas coisas não é? – ela disse.

  - Com certeza!

  - Então por que nunca me falou?






  - Isso é tudo o que temos a dizer – ele disse.
  
  - É? – ela disse – Ok.

  Ele olhou para os lados e seu pensamento corria numa velocidade dez vezes maior que o normal. Ela levantou-se para ir embora. E foi.

sábado, 5 de maio de 2012

Ramon


Dor.

  Uma única palavra pode descrever coisas muito diferentes. Mas nenhuma de suas definições é uma coisa boa. A não ser que você seja masoquista.

  Ramon saiu pra trabalhar. Na rua, a barulheira da cidade. Sua expressão era de total tristeza. Da mais profunda dor. Mas as pessoas no trem não notaram. Chegou ao prédio da empresa e entrou no elevador. Estranho... não tem música no elevador para Ramon hoje.

  As pessoas que o conheciam, também não notaram, ou se notaram, não falaram nada.

  Seu chefe largou uma pilha de relatórios e planilhas sobre sua mesa para serem organizadas. Ele não disse nada, só puxou os papéis do topo, que estavam presos por um clipe, que ele retirou. Passou os olhos pelo papel, digitou um pouco e largou o papel em cima do teclado.

  Recostou-se na cadeira. Toda essa atitude inexpressiva não estava funcionando. Guardar aquilo dentro de si não estava ajudando. Foi até a janela. Sua sala ficava no décimo segundo andar. A vertigem de olhar diretamente para baixo era... tentadora.

  Em todo caso, já se sentia despencando mesmo. Sempre teve um desejo de cair. Cair e continuar caindo. Pra sempre. Tinha esquecido esse desejo por um tempo.

  Dor.

  Será que dói morrer?

  Será que dói mais do que viver?

  Ramon olhou pra pilha sobre a mesa. Qual a finalidade, a propósito? Um macaco bem treinado podia fazer o que ele fazia... ou um robô.

  Um colega sorridente entrou na sala como um furacão. Convidou-o para um happy hour depois do expediente. Ramon negou educadamente. Tinha um compromisso, dissera.

  Beber hoje seria o suicídio de amanhã...

  Durante o dia ele trabalhou, foi ao banheiro, à salinha de café, à sacada. Invisível. Mudo. Automático.

  No fim, acabou indo até o bar com os colegas. Bebeu um pouco e sentiu-se melhor. Bebeu mais e sentiu-se ainda melhor. Mais e começou a sentir-se mal, mas ainda sorridente e falando bobagens.

  Deu tchau pros colegas e foi até um beco ao lado do bar, devolver o que tinha ingerido. Não lembra dos detalhes até ir pra cama, mas acordou no outro dia e já estava de banho tomado. Bom, pensou, preciso ir trabalhar.

  Não, não precisa. Hoje é sábado.

  Saiu de casa assim mesmo. Não havia sons na cidade para Ramon hoje. A noite passada definitivamente não ajudou. Hoje ele queria morrer mesmo. E ainda estava com uma puta dor de cabeça.

  Sentou-se em um banco no parque, em frente a um lago. A imagem era paradisíaca, profética, Nova-Iorquina dos filmes mais felizes. Mas infelizmente, não havia beleza no mundo de Ramon hoje.

  Será que é possível sentir dor até não sentir mais nada?

  Ramon esperava que sim.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Torre


Eu estava na frente do computador. E você tinha deixado a web can ligada, acho que sem querer, enquanto tentava tirar uma foto de si mesma. Testava umas poses estranhas, mas muito bonitinhas de se ver no movimento que você parecia não ter conhecimento.

  Eu escrevi uma mensagem, mas apaguei. Por algum motivo externo, eu tinha que medir as palavras desta vez. Escrevi outra, e outra, e outra... apaguei. Uma amiga sua que eu não gosto muito, apareceu na imagem

  Então saí da frente do computador e fui até a cozinha. Quando voltei, a imagem estava estática, com você em uma única pose. Na minha tristeza instantânea, alguém apareceu no meu quarto. Me disse umas palavras estranhas, como se eu tivesse uma fada madrinha parecida com o meu irmão ou sei lá... eu apareci em uma varanda, junto com minha escrivaninha e computador, que desapareceram  quando eu levantei da cadeira.

  Descobri que era a varanda do seu quarto. Quando entrei e chamei, pude ver que aquela amiga sua já tinha ido embora. Bom.

  Quando te vi comecei a te sacanear quanto a câmera ligada.

  -... E você fazia poses assim... mimimimi!

  - Ah, cala a boca, eu to com vergonha agora.

  - Foi bem bonitinho na verdade.

  Você precisava sair, então foi trocar de roupa. Pediu pra que eu não espiasse... e eu não espiei ok?!

  Quando pronta, vi que sua roupa parecia uma vestimenta típica de antigamente. Tipo, anos vinte... saídas direto d’O Poderoso Chefão Parte II.

  - Vamos, temos que descer e encontrar meus pais e meus irmãos...

  Me puxou pelo corredor até um elevador. Tudo dentro desse local parecia datar do começo do século passado, inclusive as roupas dos funcionários (parecia um hotel). Você largou uma mala no meio do corredor e saiu correndo me puxando até outro elevador. Não entendi o que era. Então um desses funcionários correu em nossa direção enquanto você apertava o botão do elevador freneticamente. Ele ia conseguir entrar, mas percebeu a mala e teve que voltar pelo corredor para buscá-la.

  Você riu alto, um pouco ofegante enquanto a porta do elevador fechava e o homem ficava no corredor. Eu a encarei e acompanhei o riso.

  Chegamos ao térreo e foi como entrar em uma máquina do tempo. Lá todos estavam usando vestimentas modernas (com exceção de outras três pessoas), e o local era um grande hipermercado. Alguém dava voltas com um carro em um dos corredores. Descobri que era seu pai. Seus irmãos (por que ali eram dois), empurravam um ao outro em carrinhos de mercado, batendo nas prateleiras e até contra o carro que por ali dava voltas. Pra nada disso eu pensava “WTF?!”, o que me deu a primeira pista. Quando eles te viram, saíram de seus carros/carrinhos e caminharam para a saída.

  Lá fora chovia, eu olhei para o supermercado e vi a torre altíssima, lá atrás.

  Nesse momento, percebi que não era real. Uma torre dos anos vinte, atrás de um supermercado, com funcionários vestidos a caráter e uma família que se divertia batendo nas coisas em meio aos clientes? Sempre que sonho com você, você está no alto, como naquela torre. Será que isso diz alguma coisa?

  Mesmo sabendo da verdade, na hora eu me desesperei. Me vi caído no chão molhado observando a estranha construção. Você me olhava há alguns metros, se perguntando ,eu acho, o que eu fazia no chão. Eu fui até você e a segurei pelos braços.

  - Você já foi até aquela torre?

  - Claro, é onde nós estávamos. 

  - Tudo bem. Olha... – eu apontava para cima e você me encarava - eu quero dizer uma coisa... Caso qualquer coisa aconteça... aquela torre... se precisarmos um do outro...

  Acordei. 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Talvez...


  Nasceu, e aprendeu a andar, a falar, a correr, a se vestir por conta própria. Aprendeu o caminho da escola e deixou de precisar que sua mãe levasse.

  Conheceu a morte cedo, quando seu avô morreu. Uma marca.

  Conheceu muitas pessoas malucas no segundo grau. Estas também deixaram suas marcas.

  Aprendeu junto com elas, que o mundo é muito mais do que a televisão mostra. Que os problemas tem raízes muito mais profundas do que a sociedade ensina. Aprendeu que ninguém dá a mínima pra isso.

  Tentou mudar o mundo na faculdade, não conseguiu. Frustrou-se, mas tinha ainda vinte anos apenas, e havia se apaixonado. Haveria muito tempo pra mudar o mundo.

  A mudança ficou pra depois, enquanto se separava, se apaixonava novamente e gastava seu tempo trabalhando. Pra comprar uma casa.

  Pra comprar um carro pra ir trabalhar, e assim, pagar a casa e o carro.

  Sempre quis escrever, desenhar, pintar, tocar um instrumento musical. Mas não havia tempo! Tinha que cuidar das crianças, da vida amorosa que equilibrava-se na beira de um abismo gigantesco.

  Chorava quando estava triste. Chorava quando estava feliz, por que pensava que a felicidade não duraria muito, e logo estaria triste novamente.

  As vezes queria acreditar que o momento bom duraria, mas isso só aumentava a queda quando quase podia enxergar a efêmera felicidade lhe escapar por entre os dedos, um momento antes de ela desaparecer.

  Vinte anos depois de começar a trabalhar naquela empresa, vei a demissão. Diziam que era por causa dos problemas com os remédios e outros vícios. Que não produzia mais como antigamente.

  Chorava. Por que ninguém dá a mínima. Quando criança seu mundo inteiro parou por um dia, e ninguém pareceu se importar. Mas era jovem, e havia superado. Havia deciddo que faria algo de maravilhoso com a sua vida. Que algumas pessoas sentiriam respeito e admiração por tudo o que tivesse feito.

  Mas não fora forte o suficiente. Deixara-se engolir pela vida... ou... o que chamam assim.

  Havia ainda tempo? Mais importante, havia ainda força?

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dualidade - Capítulo 1

Alexandre Barbosa da Silva

Capítulo 1: As coisas estranhas e como eu as ignorava


Antes de começar esta narração, onde contarei várias de minhas proezas, como ter derrotado a Fada dos Dentes e o Lobo da Capital, ou simplesmente ter nascido, deixe-me esclarecer algumas coisas.

O prólogo foi escrito em terceira pessoa, a partir de um relato meu. Eu e Alejandro decidimos isso antes de começarmos a escrever: Prólogos e epílogos seriam escritos por outra pessoa. Sim, há dois prólogos e o meu vem primeiro por que eu ganhei do Alejandro no par ou ímpar (ele sempre coloca dois). Só um de nós vai chegar ao fim da história vivo, mas ambos escrevemos nossas próprias versões dos acontecimentos, e escreveremos até que o coração de um de nós pare de bater. Neste caso, será o fim da história, e o cara que escreveu o[(s)] prólogo[(s)] dá um jeito de terminar e editar. Não, não são duas histórias, combinamos de intercalar os capítulos de cada um, assim como nossas vidas acabaram se misturando.

Ah, eu queria começar com uma frase de impacto (mesmo que não seja muito boa), e ela deveria estar na sinopse da aba da capa do livro ou coisa assim (provavelmente está). É essa: Seja bem-vindo ao circo dos horrores que algumas pessoas chamam de mundo.
P.S. Espero que se for eu a bater as botas, que Alejandro cumpra a palavra de deixar meu prólogo e meus capítulos na frente.



Você já notou como as pessoas ignoram as coisas estranhas que acontecem com elas? Dizem que é coincidência ou qualquer coisa. Acredite, você não deve ignorar quando as lâmpadas dos postes se apagam sempre que você passa. Vultos? Sim, há alguém, ou algo, alí naquele canto escuro. Ah, sempre atenda telefones públicos que tocam no meio da noite, no momento exato em que você passava... sozinho.

Claro, qualquer coisa dessas pode mesmo ser coincidência, mas também pode não ser, e eu aprendi do jeito difícil.

Ela digitou:

“amorzinho! Vms ao show do Samba Muleke hoje como vc prometeu, naum vamos? Vc disse que ia ceder um pouco tbm!”

Eu digitei:

“Ah!!! Eu tinha esquecido amoreco... mas foi por causa da febre...”

“febre amorzinho? AWNNNN, deixa a sua pitchuquinha ir até aí cuidar de vc! *-*”

“Não precisa não, a minha mãe tá cuidando de mim, e você sabe, vocês não andam se dando muito bem.”

“td bem, já que vc insiste... mas vc não vai se importar intaum se eu for ao Samba Muleke... vai? Vc confia em mim naum confia?”

Ok, é justo, pensei.

“Tá bom amor, pode ir ao seu pagodinho. Eu confio em você.”

Ela não era exatamente minha namorada. Quero dizer, eu meio que não suporto muito ela, mas sabe, um homem tem necessidades... e ela não era exatamente de se jogar fora. Fisicamente falando.

Bom, eu posso ser muitas coisas, mas não sou hipócrita. Claro que ela podia ir ao show dela. Afinal, naquela noite eu ia pra casa de um amigo encher a cara enquanto fazíamos campeonatos dos mais variados no novo videogame dele. Já jogou um game de corrida desses ultra-velozes com a cara cheia? É bem legal.

Mas para vocês entenderem direito o que se segue, vou voltar uns dias no passado, mais precisamente sete dias antes, quando fiz exatamente o que eu planejava fazer na noite que acabei de descrever.



Eu saía meio cambaleante da casa do meu amigo Ricardo. A parte boa da bebedeira já tinha passado, e tudo o que eu mais queria era chegar em casa o mais rápido possível.

Quando estava na rua da minha casa, vi um vulto atravessando a rua na distância. Na minha condição tive certeza de ter imaginado. Quando cheguei ao local onde pensei ter visto o vulto, havia uma cão enorme, no canto da rua, num terreno baldio e ele me olhava fixamente. Normalmente teria ficado maio paralisado. Me cago de medo de cachorros, confesso. Mas naquele momento eu simplesmente fiquei encarando-o também, por um tempo.

Ele se aproximou sem tirar os olhos de mim, como se me examinasse. Depois eu ouvi um barulho
atrás de mim. O cão olhou e deu um passo atrás, quando me virei para olhar, não havia nada que indicasse de onde viera o som. Voltei a me virar para o cachorro, mas ele não estava mais lá. Segui meu caminho, mas não lembro de como cheguei em casa.



Vê? É a este tipo de situação que eu estou me referindo. Não ignore essas coisas. Já dizia J.K. Rowling: “Os trouxas! E eles lá escutam direito? E também não enxergam direito. Nunca reparam em nada, não é mesmo?” (Não sei se posso usar frases de outro livro aqui, se não puder, que o editor mude essa parte).

Bom, na noite do show do Samba Muleke que eu habilmente evitei, eu e a gurizada repetimos a dose. E repetimos, repetimos, repetimos.

Quando saí da casa do meu amigo, via pouco mais de um palmo a frente dos olhos. Há umas duas quadras da casa dele, em uma rua totalmente deserta e mal iluminada, eu tropecei e praguejei. Olhei pra baixo pra ver no que tropeçara e sorri. Eram apenas meus cadarços soltos! Não havia sido por causa da bebida, não!

Abaixei-me para amarrá-los, o que consegui com alguma dificuldade e resolvi seguir meu caminho. Só que no momento em que eu me levantei dei de cara com o cão enorme do outro dia, e ele parecia ainda maior. Praguejei novamente devido ao susto, e aí sim, paralisei. Ele se aproximou de mim e eu tentei recuar. Caí de bunda no chão.

“Tem certeza de que é esse aí?”

Olhei para os lados procurando quem falara. Não havia ninguém. A idéia que passou pela minha cabeça me aterrorizou e divertiu ao mesmo tempo.

“Tenho” disse outra voz do além.

“Ok garoto, eu tenho que falar contigo, uma coisa importante.”

Novamente eu olhei para os lados desorientado. O cão colocou a pata enorme na minha cabeça e empurrou, no que eu juro, pareceu muito com um peteleco na orelha.

“Sou eu mesmo garoto, chega de palhaçada.”

Eu estava certo, era o cão que falava. Sem mover os lábios. Eu parei por um segundo para absorver aquilo. E caí na gargalhada.

- Você?! – eu disse – sério? HAHAHAHAHAHAHAHAHA!

Então senti algo se revirando dentro de mim. Algo estava voltando. Não sinto orgulho dos sons que produzi ao lavar a calçada de uma pequena padaria. Juro que o cão me olhou com uma expressão de extremo desgosto.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dualidade - Prólogo 2

Alexandre Barbosa da Silva

Prólogo 2

O rapaz estava sentado sobre o túmulo frio, como sempre fazia. Brincava com o celular entediado, lendo e relendo a mensagem, e sempre achando que era uma grande palhaçada, um trote, uma brincadeira de mau gosto.

É claro que ninguém apareceria naquele cemitério aquele dia. Por que domingo? Se a pessoa sabia que ele ia lá toda a quinta-feira, por que não apenas aparecer e falar com ele neste dia?

É claro que ninguém apareceria naquele cemitério. Mas... como esta pessoa sabia aquelas coisas sobre ele? Bom, talvez apenas fosse o caso que muitas pessoas pensam parecido, e ele não era tão especial como achava. Não, não era isso.

Bom, tinha que esperar pra descobrir.

Não precisou esperar muito. Uma meia hora depois do horário marcado, ele viu um clarão a direita, atrás de umas tumbas cobertas de hera. Encolheu-se sobre o túmulo gelado, puxando as pernas para cima. Um som de passos e de folhagem se mexendo começou a aumentar de volume. Alguém vinha caminhando por entre as criptas.

Quando viu quem era, ou melhor, o que era, sentiu suas entranhas se revirarem, mas não gritou, apenas esperou. Um lobo enorme caminhava na sua direção. Tinha uma aparência perversa, mas quando falou, se é que falou, pois não abriu a boca, sua voz era suave, e parecia atrapalhado.

“Olá garoto! Desculpe o atraso... é um mau hábito.”

segunda-feira, 19 de março de 2012

Dualidade - Prólogo

Alexandre Barbosa da Silva

Prólogo


O lobo enorme o atacava ferozmente. Quando erguia-se e nas patas traseiras era mais alto que o rapaz segurando a espada.

Os dois se encontravam no terraço de um prédio que devia ter uns quarenta andares. A noite estava clara devido a grande lua cheia e toda a iluminação da cidade. O rapaz estava agüentando firme pra não ser jogado lá de cima a cada investida de garras e dentadas do monstro. Quando este saltou para uma investida aérea, o rapaz tomou uma posição de ataque. A espada posicionada como se fosse um taco de baseball enorme e prateado, pronto para causar um home run.

E foi exatamente o que aconteceu. Quando o monstro estava prestes a cair em cima dele, ele o golpeou com toda a força. O monstro usou as garras para se defender, mas foi atirado para fora dos limites do terraço, em queda livre.

“Não, não, não! Ele não pode cair! Isso não é culpa dele!”, pensou o rapaz.

Quando correu até a beirada para ver o que tinha feito, surpreendeu-se com o cão, que escalava o prédio com as garras, em alta velocidade.

O rapaz não sabia se ficava aliviado ou com medo enquanto o lobo aproximava-se ainda mais feroz.



* Olá pra quem estiver lendo. Esse capítulo já foi postado há meses atrás. Postei novamente, pois planejo dar seguimento a esta história, que antes não tinha muita forma em minha mente, e que agora está mais enxuta. O texto está um pouquinho modificado. Fiz uma ou outra correção, ms inda não está 100%. Mas claro, se eu fosse esperar a perfeição, não postaria nunca. Mas os próximos capítulos já estão prontos, e postarei o próximo no fim da semana. Depois não tenho prazo pra escrever os capítulos, mas pretendo escrever constantemente. Até mais, e acompanhem!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Trabalho

Arthur tinha trinta anos. Era solitário, frustrado e estressado. Trabalhava dez horas por dia em um escritório. Este escritório ficava tão longe da sua casa que só o percurso até ele tirava no mínimo mais duas horas do seu dia, quando o trânsito estava bom.

Trabalhava lá há mais de sete anos. No mesmo cargo que odiava, e com um salário que só havia sido aumentado pelo governo mesmo. Mas durante esse tempo, ele economizou um bom dinheiro, com o objetivo de viajar para Paris.

Pelo que contam, deve ser a cidade mais bela do mundo!E quem sabe eu não vivo um desses romances parisienses que mostram nos filmes enquanto estou por lá?

Hoje é o último dia de Arthur no trabalho antes das tão esperadas férias. Ele tem dinheiro suficiente, as passagens estão compradas.

Quando ele está para sair para o almoço, seu chefe se aproxima, com a cara mais deslavada do mundo. Diz que as férias dele devem ser adiadas em função de uma outra funcionária que, segundo ele, havia pedido aquele mês de férias antes dele.

- Desculpe! Eu não tinha me lembrado quando disse que podia tirar férias em Janeiro! Mas não se preocupe, talvez possamos agendar você para julho? Que tal?

O chefe então dá uma palmada amigável no seu ombro e sai. Mas não sem antes dar uma piscadinha para a vizinha de mesa de Arthur.

No dia seguinte, Arthur acorda para tomar café da manhã. Enquanto sentado na mesa, ele olha para as passagens em uma mão, e para o relógio na outra. Está quase na hora de voltar para o escritório. Ele deve ligar para a companhia aérea agora se quiser ter um reembolso... Ele pega o telefone e disca.

- Alô, chefe? Me demito.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Histórias de Uma História.



Conto 6

Os dias são todos iguais...

Não?

É são todos iguais, tão iguais que não notamos as nossas diferenças, eu falo as verdadeiras, não as de pouca importância. Mas diferenças que não nos faz diferentes ao mesmo tempo.

Leonardo sempre foi apaixonado por criar coisas, foi então que desde jovem juntou suas economias para publicar uma baixa tiragem de um livro que ele pretendia escrever. O livro não tinha um tema em especifico falava sobre tudo que ele observava. Algo que Leonardo tinha observado é que o mundo em silêncio nos revela coisas que ele achava que as pessoas não estão acostumadas a observar.

Sim isso mesmo, você esta certo... Leonardo era surdo/mudo.

Sua vida inteira fora um completo silêncio, e na verdade ele não compreendia quando lia no jornal que determinada música era o hit do momento, ou tão pouco quando na internet outras pessoas atacavam aquela mesma música por considerar péssima. Ele não podia escutar, mas mesmo assim ele fazia parte daquele mesmo mundo?

As pessoas se preocupavam tanto com aquilo, pensava ele... Como se aquilo fosse à resposta pelo sentido de se estar vivo naquele momento respirando...

Então ele poderia ser um ser humano pior, com menos capacidade...

Uma vez ele leu em um livro que o importante não é a quantidade de força, dinheiro e até mesmo amor que possuímos, mas sim como usamos a nossa força, o nosso amor. O sentido não estaria nos gostos, mas sim em nosso caráter. O sentido não está na capacidade, mas sim na força de manisfestar o que temos por dentro.

Leonardo gostava de sentar na beira da praia e ver as ondas quebrarem. Cada onda era única, cada momento é único, assim como cada pessoa é única, mesmo com os defeitos que cada um possui. Esses pensamentos deslizavam da sua mente e caiam nas páginas brancas de seu livro.

Sentado na beira do mar ele não podia ver o vento, e tão pouco escutar seus assovios que as pessoas diziam escutar em dias chuvosos de ventania. Porém quando ele fechava seus olhos podiam sentir a brisa do mar tocar seus cabelos e lhe contar sobre os outros lugares que havia percorrido. Era assim que Leonardo queria ser... Livre como o vento que desliza pelo céu levando consigo o tempo e várias histórias...

Leonardo queria que a sua história fizesse novas histórias brotarem no coração de cada pessoa. Muitas pessoas o achavam um coitado, ou um deficiente. Mas ele via aquilo como um dom, o dom de sentir verdadeiramente o mundo ao seu redor.

Certa vez quando era criança Leonardo foi levado ao hospital, pois seus pais notaram que ele não aprendia a falar e tão pouco reagia aos seus chamados. Então o pequeno garoto foi diagnosticado como surdo e várias terapias e aulas para surdos foram indicas. O médico comovido com o pequenino garoto que observava o mundo no silêncio absoluto abriu a gaveta de sua mesa e retirou um livro de capa azul com nuvens desenhadas e deu ao garoto.

Leonardo não entendeu o gesto e tão pouco sabia ler, pois ainda era criança. Porém ao descobrir o significado das palavras começou a ler aquele livro e entender parte do seu próprio papel na vida.

Ele tinha o dom de escrever sua própria história de vida, e literalmente não precisava escutar os palpites das pessoas que apesar de poderem escutar, escutam o que os outros querem que elas ouçam... E cegos vivem...

Em algum dia de uma certa semana de um determinado mês Leonardo deixou aquele livro em um ônibus que havia tomado para ir até o aeroporto. Ele sabia que aquela história do livro formaria novas histórias na vida de outras pessoas.

Leonardo estava viajando, ele era um recém famoso escritor viajando para escrever mais histórias, para escrever sua própria história. Para ver o mundo, ver outras pessoas outras culturas, pois acreditava que essa era a riqueza maior do ser humano... As diferenças que cada um possui. Cada pessoa em sua cultura fazia suas próprias descobertas, vivia suas próprias experiências e compartilhava isso com as pessoas ao seu redor.

Leonardo tinha cada vez mais certeza que as experiências de outras culturas eram a possibilidade de apreciar mais a vida no pouco tempo que temos sobre a terra. Eram a possibilidade de aprendermos mais sobre nós mesmos, sobre a vida, sobre o mundo. São histórias que de uma história, a história da vida escrita através das nossas histórias, através de nossas existências que brilham por uma fração de segundo na imensidão do universo, assim como as estrelas.

Histórias de uma história! É isso que a vida é!

Histórias que se completam, pessoas que se completam, momentos que germinam na terra chamada vida e fazem brotar existências que percorrem o tempo construindo novos sentidos pela imensidão da vida que sobe até as estrelas até se perder de vista.

As nossas histórias irão se encontrar novamente em algum pedaço da imensidão do céu observe bem no silêncio da noite o céu. Lá que será escrita uma nova história. Eu tenho certeza... Histórias que farão uma nova história no infinito...

É no silêncio da vida que eu senti meu coração bater, o pulsar do meu coração que me deu fôlego de escrever essas histórias que se unem a sua história de vida hoje!

É os dias são todos iguais, nós é que estamos diferentes...


FIM.