terça-feira, 20 de setembro de 2011

Diário das Trevas - Capítulo 14

Aqui está o novo capítulo, demorou pra escrever por vários motivos, mas está ai espero que gostem.
Anteriormente em Diário das Trevas:
Eu estava perplexo como uma coisa tão simples fazia tanto sentido da forma como ele havia dito. Mas a minha pergunta principal ainda não havia sido respondida.
- Você deve estar se perguntando por que eu ainda não respondi a sua pergunta relacionada à escuridão certo? Bom tudo tem a ver com o tempo, vou lhe contar por que tudo isso está acontecendo e onde está sua mãe...
Capítulo 14: Um sentido para a vida.
Eu estava sentado naquela cadeira de frente para um ser no mínimo esquisito que me falava coisas talvez que se contassem para mim em outra época eu achasse absurdo. Eu um garoto que estava de saco cheio com a vida quando comecei a contar essa história sentia um tédio do mundo e de tudo que fazia parte dele. Eu estava porém tendo o conhecimento do que porque de tudo aquilo...
- Josh eu não tenho sentimentos eu simplesmente faço o que deve ser feito, e o que eu devo fazer está além do que vocês humanos podem julgar como errado e certo, eu não tenho pena, angustia, ódio, felicidade, tudo o que eu faço e o que sou está além da opinião de vocês, minhas ações são as minhas próprias palavras. – Falou o ser com de uma forma absoluta.
Eu evitava olhar para as orbitas vazias em seu rosto e observava somente sua boca que despejava todas aquelas palavras que definiam o que ele era. Eu estava ansioso para saber sobre minha mãe, para saber o porquê de tudo aquilo.
- Você não é ninguém muito especial nesse momento Josh, e nem é privilegiado por estar sentado nessa cadeira, como eu disse muitos já estiveram ai, com as mesmas angustias, duvidas e até com a fé abalada. – Disse o ser que me passava uma sensação de vazio intenso.
- Eu não estou com a minha fé abalada, eu sei que eu vou encontrar o meu irmão e a minha mãe, eu quero entender por que tudo isso está acontecendo e achar uma solução.
- Josh sua mãe está morta, foi você quem a matou, você se lembra quando estava dentro do carro e achou a arma no porta-luvas para ir resgatar o seu pai? O monstro que estava na porta do carro incomodado com a luz da lanterna era a sua mãe, você deu um tiro nela, o seu primeiro tiro, foi em direção a ela e tirou a vida dela.
Eu senti algo indescritível, senti como se o meu coração tivesse deixado o meu peito, e ali agora estava um buraco imenso e vazio. A minha esperança havia morrido por completo naquele momento. As lágrimas rolaram aos montes pelo meu rosto sem nem ao menos eu comprimir meus olhos para chorar. Eu não sabia mais quem eu era e se ao menos estava vivo por mais que o ar entrasse e saísse dos meus pulmões.
- Vocês humanos se acham inteligentes, lógicos, porém são guiados por meras aparências, o nível mais preliminar da superficialidade, por isso descartam outras pessoas, matam por motivos banais, odeiam por alguns não pensarem ou não serem como alguns de vocês pensam e são. Acreditam em superstições e em destino apenas para encherem seus egos e se sentirem especiais, para justificarem o porquê de estarem em um mundo em que não compreendem. Crianças morrendo de fome, crianças sendo estupradas, assassinatos, seria tudo isso obra do destino ou da sorte? Nem um nem outro isso é fonte de vocês mesmos é o reflexo das atitudes tomadas pelos humanos. Vocês demoram a amar as pessoas, mas em alguns minutos podem passar a odiar alguém do fundo de suas almas por algum motivo estúpido gerando uma corrente de ódio.
Eu escutava as palavras daquele ser com o rosto encharcado paralisado pelo choque que levei ao mesmo tempo. Eu não sabia o que pensar exatamente, continuei imóvel ali querendo berrar com todas as minhas forças até que tudo desaparecesse. Ele havia me dado uma noticia daquelas sem nem ao mesmo se importar com o estado em que eu estava.
- Quando vocês humanos começaram a viver, foi criado um diário, ao longo do tempo eu fui encarregado de escrever nesse diário tudo que acontecia com cada pessoa desse planeta, você me perguntaria como isso é possível, porém de nada adianta explicar isso, pois foge da capacidade compreensiva relativa a tempo percebida por vocês. Desde o inicio até a gora a vida de todas as pessoas que já existiram e existem está escrita nesse diário, cada palavra que elas falaram, cada ação, cada pensamento, cada duvida, assim como os acontecimentos da humanidade. Esse diário se chamava de “Diário da Vida”, mas como se prevê, os humanos nunca aceitaram muito bem uns aos outros e se questionavam e lutavam pelo o que acreditavam da maneira mais contraditória possível falando e buscando soluções e respostas através de guerras e ódio. O diário aos poucos começou a ficar escuro até que no final era difícil ver algum pedaço branco, cada sentimento de ódio, cada assassinato cada ato inescrupuloso era mais abundante que um ato de amor puro ou caridade.
Eu costumava olhar as nuvens no céu e sentir uma paz imensa, deitar na grama e admirar aquela imensidão, porém quando eu voltava os olhos para baixo tudo que eu via era carros buzinando, pessoas desconfiando umas das outras e a minha mãe me falando para não falar com estranhos, pessoas trancado os portões das casas, uma humanidade com medo dela mesma, mas com o tempo isso foi ficando tão natural que era quase como que escovar os dentes ou tomar banho, fazia parte das ações cotidianas, agora eu entendo o porque. Ficamos acostumados com os nossos próprios defeitos.
- Este diário foi corrompido, ele tinha a finalidade de registrar tudo para que no final vocês humanos pudessem avaliar suas próprias vidas e evoluir, trazer ao mundo ao mesmo tempo toda a experiência adquirida pela humanidade como um todo e promover o Maximo suas existências. Alguns de vocês dizem que Deus os abandonou, porém vocês fecharam seus olhos para suas almas desacreditaram na magia que é a vida, tornaram tudo mecanizado e material, deixaram de voar, pois acreditavam que a realidade e a segurança estava presa ao chão em que pisam, poluíram os lagos de águas cristalinas, destruíram as florestas e os campos verdes, tudo para se tornarem consumistas e criarem coisas que despertaria cada vez mais a cobiça e o desejo envenenando suas almas. O diário não suportou e explodiu naquele dia com o anuncio da terceira guerra mundial, assim como o mito da caixa de pandora, todo o mal que vocês mesmos provocaram se espalhou pela terra engolindo tudo na escuridão a única coisa boa que fez vocês sobreviverem durante esses milênios foi a esperança e esta escapou junto com o mal da escuridão sendo a única ferramenta para salvá-los.
- Então estamos sendo castigados. – Disse eu em meio as lágrimas.
- Não – Disse o ser balançando a cabeça negativamente. – Vocês estão sendo salvos, como humanos devem provar da dor para conhecer o bem, vocês estão experimentando os seus próprios atos manifestadas através dessa escuridão que entra no coração daqueles que não tem esperança e os transforma em monstros através daquela rosa negra que tira toda a tristeza e magoa que existe dentro de seus corações e os transformam em monstros temporariamente. As pessoas que tem esperança têm em seus corações luz.
O que vai acontecer com o mundo eu me perguntava, o sol vai nascer mais uma vez? Poderei sorrir novamente? Poderei abraçar quem eu amo mais uma vez, poderei ver sorrisos brotando nos rostos das pessoas?
- Pare de crer nas coisas com apenas os seus olhos, passe a tocar as pessoas e o mundo com o seu coração, quando você toca algo com amor, essa coisa é envolvida por bons sentimentos é disso que o mundo precisa, de sentimentos verdadeiros. – Disse o ser sem olhos segurando o diário em suas mãos pálidas.
Você acredita em destino? Ou tudo não passa de probabilidades aceitáveis em um mundo de possibilidades? Você é dono da sua vida, ou tudo já esta escrito em algum fragmento de estrela que brilha por você na imensidão do céu?
A sua felicidade.
A sua desgraça.
Um sorriso um choro, uma alegria e uma decepção.
Tudo já foi escrito, ou você simplesmente é a própria causa da sua vida, você é seus próprios méritos?
Vocês são as suas próprias oportunidades de vida que se alimentam da esperança e da curiosidade que é a vida?
Você é dono de seus próprios sonhos, da sua própria liberdade, dos seus próprios sentimentos?
Se o destino existe eu acho que não valha apena lutar pelo que sonhamos e acreditamos.
Se o destino existe talvez seja inútil amar, sentir, experimentar, viver e até respirar.
Talvez se o destino exista seja mais fácil simplesmente desistir de viver e deixar acontecer...
Se o destino existe a esperança é algo inútil.
Se o destino existe a esperança não passa de mera superstição.
Se destino existe, a esperança não passa de uma palavra bonita para se iludir com o destino irremediável da sua vida.
Destino não existe, destino é a desculpa para nossa estupidez ou para nossa superficialidade, tudo no mundo está interligado seja em equilíbrio ou em desequilíbrio, se uma criança morre de fome não é sorte ou destino são as nossas ações de competição, glória, desejo e ócio se manifestando, somos livres para viver e aprender tudo de bom que a vida tem a oferecer caso contrário não haveria sentido.
Se você achar um grande amor não foi obra do destino, foi obra do seu coração e do coração da pessoa que você ama. Se você não encontrar um grande amor é a prova de que você tem a liberdade da sua vida para encontrar e se o seu grande amor acabar o destino não existe justamente para que você possa superar e ter a oportunidade de conhecer outras pessoas. O destino foi acreditado pela ausência de coisas boas neste mundo, logo as poucas coisas boas que restaram foram atribuídas ao destino pela falta de esperança na vida...
Que sentido tem um mundo onde nada depende de você, onde tudo já está pronto para causar a desgraça que é abundante nesse planeta.
Somos fruto do reflexo de nossas ações, somos reflexo do que podemos tocar com os nossos corações. Levante criança, acredite na vida, faça o bem e ajude o seu semelhante que tem fome de alimento, amor e vida. Você mais do que uma coisa determinada, seus sonhos e suas possibilidades são tão grandes quanto o céu.
As estrelas não foram criadas para guardar o destino das pessoas, mas elas estão lá para testemunhar e para poderem contar para todo o cosmo o quão linda a vida pode ser...

Próximo Capítulo 15 o capitulo final.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Quem Te Traz as Cores - Capítulo 9

Alexandre Barbosa da Silva



Capítulo 9: Os saldos e a tremenda idiotice.




Se fosse chorar por algum motivo, seria pela falta de mudança. Pela esperança despedaçada e pela decepção. E por isso, de fato, chorou.

Mas não conhecia Rafael pra chorar por ele. Sabe quando alguém morre na televisão, alguém famoso, mas que você nem sabe o que essa pessoa fazia da vida? Era mais ou menos isso. Será que sua mãe sabia? Provavelmente não, pois falava dele sempre com um tom de raiva. Devia achar que ele fora embora e desaparecido por conta própria, e que nunca mais quis nem saber do filho.

Gabrielle o abraçava, enquanto estavam deitados na cama do hotel, e descansava a cabeça sobre o seu peito.

Depois de quase uma hora na qual ninguém falou nada, Gabrielle falou:

- Está tudo bem?

- Está sim – ele a abraçou mais apertado – só estou pensando.

- Sei que é uma pergunta idiota, mas, no que está pensando?

- Não é uma pergunta idiota não – respondeu ele, os olhos grudados no teto, as mãos afagando o cabelo de Gabrielle – Claro, eu estou pensando nisso também, mas também estou pensando no saldo dessa viagem.

- Saldo?

- É, quero dizer, eu vim até a Europa, planejei isso durante anos e acabou desse jeito. De um jeito que eu não poderia prever.

Gabrielle sentiu uma pontada de tristeza. Se sentiu mal por isso, estava sendo egoísta, pensou.

Como se tivesse lendo os pensamentos dela, ele continuou:

- Por outro lado, uma coisa que eu não previ também, se provou uma surpresa maravilhosa.

A pontada de tristeza sumiu. Gabrielle se sentia ainda mais egoísta por isso, mas uma egoísta feliz pelo menos. E sabendo a resposta, perguntou:

- O que?

Ele a puxou para mais perto, sabia que ela queria ouvir aquilo, por mais que casais no mundo todo digam isso a todo instante.

- Eu encontrei você.



Naquela mesma noite e nos dois dias que se seguiram, Os dois aproveitaram para conhecer o máximo de lugares de Paris que conseguiram. Douglas estava ficando mais a vontade, depois das descobertas que tinha feito. Não dava pra dizer que tinha esquecido, mas Gabrielle era algo tão bom pra ele, que não conseguia ficar triste por muito tempo ao lado dela. De ambas as partes, o sentimento aumentava, e estavam dispostos a dar continuidade quando voltassem pra casa.

Então chegou o dia em que ele partiria para a Espanha, em sua última escala, e ela voltaria para a Itália, onde passaria mais uns dias com o pai.

No aeroporto, chegaram ao momento da despedida, mais uma vez temporária.

- Divirta-se na Espanha – ela disse – eu soube que as espanholas são muito bonitas.

Ele retribuiu o sorriso que ela lhe lançava, o sorriso que estava aprendendo a amar, e a abraçou com nunca antes. A segurou por um tempo, e ainda abraçando-a, disse:

- Obrigado – não sabia se conseguiria soltá-la.

- Obrigada você – ela disse afastando-se – por me ajudar, por me levar a pista de patinação, por tudo que fez. Por me dar apoio com o meu pai…

Uma lágrima correu pelo seu rosto.

- Que bobagem né? – ela disse – até parece que a gente ta se despedindo de verdade!

- Vejo você em alguns dias.
Então ele foi se afastando, de mãos dadas, soltando-a lentamente. Ela sorriu, enxugou as lágrimas com uma das mãos e foi embora.




Teria sido lindo, teria sido mágico, e no fim foi ainda mais mágico, devido a grande idiotice que eles fizeram.

Quando ele estava no avião, pensando que dessa vez era real, não tinha erro, em uma semana mais ou menos, ele teria de fato, um relacionamento, com alguém tão improvável quanto a situação que os uniu, pensou em uma coisa que lhe causou choque.

Eles não trocaram números de celular, depois que o primeiro de Gabrielle estragou. Eles não sabiam o nome completo um do outro, nem o dia em que desembarcariam de volta em sua terra-natal. Como haviam deixado isso passar? Será que estarem apaixonados os havia deixado loucos também? Como pretendiam se encontrar depois, se não tinham nem como se localizarem? Como puderam ser tão idiotas?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Díario das Trevas - Capítulo 13

Ai está o Capítulo 13 de Diário das Trevas, um pouco atrasado, mas antes tarde do que nunca, espero que gostem.
Anteriormente em Diário das Trevas:
 Dei a partida no carro e fui em direção à cidade. O céu no centro da mesma continuava avermelhado com clarões igualmente vermelho. Parecia um cenário apocalíptico, mas eu estava decidido a encontrar minha mãe e meu irmão, eu sentia que podia! Minha mente e o meu coração estavam preparados para vencer a própria escuridão que existia dentro de mim.
Capítulo 13: Além do Bem e do Mal.
Sim, eu estava me sentindo mais maduro de alguma forma as coisas mudaram dentro de mim de um modo positivo. Comecei a pensar se demoraria muito para que o céu se tornasse azul novamente, para que as pessoas saíssem de suas casas, que a leve brisa da primavera retornasse como em todo o ano fazia e tocasse os meus cabelos me fazendo poder respirar em paz.
Eu não era um motorista exemplar, o que eu sabia era devido ao meu pai que me ensinou nas férias de verão quando passei com ele. Mas ainda sim era o suficiente, eu dirigia muito atento observando as ruas, até que cheguei finalmente à avenida principal onde ficava o prédio em que minha mãe trabalhava, e era lá mesmo que o vermelho do céu era intenso e descia imponentemente em forma de um redemoinho junto com nuvens carregadas.
Curiosamente não escutava nenhum som das pessoas transformadas, tudo estava vazio e em silêncio, como que o destino aguardasse por um momento triunfal. Parei o carro e desci com a lanterna e o revolver em punhos.
Entrei no prédio que parecia abandonado e fui procurar minha mãe, havia eletricidade ainda como em boa parte da cidade.
Em alguns momentos da minha vida eu sempre tive o que algumas pessoas chamam de intuição, mas não é bem isso, é como se fosse uma parte de mim que sempre foi mais esperto e me avisava sobre o que fazer. Estranhamente sempre que eu tomava decisões opostas a isso eu simplesmente me ferrava. Pensando mais profundamente nisso eu cheguei à conclusão que eu sempre tive escolhas e mesmo as situações em que eu errei, eu tive a oportunidade de tomar a decisão contrária e talvez tivesse acertado nesses momentos.
Quando eu apertei o botão do elevador eu senti aquele chamado do fundo do meu peito e da minha alma de que eu estava fazendo a coisa errada, porém por mais que tudo me levasse a fugir eu não podia desistir de encontrar minha mãe e meu irmão.
Entrei no elevador, minhas roupas estavam sujas, mas eu nem me importava, aquilo era o de menos. Eu apertei o botão do sexto andar e as portas se fecharam e o elevador começou a se mover lentamente. Primeiro andar... Segundo andar... Terceiro andar... Quarto andar... O elevador sacudiu violentamente, porém eu não senti medo, eu acreditava em algo que eu não sabia descrever com palavras, mas estava no dentro no meu peito.
O elevador começou a se movimentar mais rapidamente, aquele prédio ia até o décimo segundo andar, porém o marcador digital entrou em curto e apagou, até que o elevador parou subitamente e as portas se abriram lentamente.
Era uma sala cinza sem janelas, no centro havia duas poltronas e em uma delas havia alguém sentado, como se estivesse me aguardando. Eu entrei sem hesitar meu coração batia rápido aquela altura, me aproximei e observei quem estava sentado na poltrona. Para o meu espanto era um ser igual ao que eu me deparei no meu quarto, pele pálida sem olhos com apenas um vazio nas orbitas onde deveriam estar os olhos, o resto do rosto era normal e genérico, ele vestia um manto escuro com alguns rasgões.
Ele moveu a cabeça na minha direção, então tive a certeza que ele podia me enxergar mesmo sem os olhos, ele esticou a mão convidativamente na direção da poltrona vazia, me convidando a sentar. Eu estava com a lanterna e o revolver em mãos ainda então me sentia seguro de alguma forma, porém o medo não era hospede do meu coração naquele momento.
Sentei calmamente e fiquei observando aquele estranho ser esperando que alguma coisa acontecesse, foi quando eu fui surpreendido pela voz do ser, que começou a falar.
- Estranho como a vida às vezes parece nos pregar peças não acha? Às vezes parece que tudo vai desmoronar, que Deus nos abandonou.
Eu fiquei em silêncio, não sentia que deveria responder ou dar a minha opinião, então ele continuou a falar.
- Acho que você está cheio de perguntas, abra o seu coração e as despeje para mim, eu sei as respostas para tudo que existe.
Eu ponderei por alguns instantes e então resolvi fazer as perguntas que estavam coçando em minha garganta - De onde veio essa escuridão que tomou conta de tudo, por que tudo isso está acontecendo? – Perguntei não me contendo.
Ele inclinou os lábios para cima o que me pareceu um leve sorriso, em seguida começou a falar. – O que você acha que é a coisa mais poderosa no mundo e no universo?
Eu parei pensativo por algum momento e uma única resposta parecia obvia na minha cabeça, então respondi. – Eu acho que é o amor.
- Eu fiz essa pergunta para muitas pessoas que estiveram sentadas nessa mesma cadeira que você está agora e quase todas elas me responderam a mesma coisa o amor. Eu não entendo por que vocês humanos falam e recorrem tanto ao amor, mas na verdade não sabem o que significa. A coisa mais poderosa no mundo e no universo não é o amor, é o Tempo.
- Mas por que o tempo? – Perguntei chocado.
- O tempo é capaz de moldar as coisas, é capaz de fazer brotar o amor assim como acabar com ele, é capaz fazer nascer e morrer faz idéias amadurecerem, pessoas amadurecerem, faz com que mundos nasçam e acabem, o tempo enche e esvazia as coisas, move montanhas é o responsável pelo inicio e pelo fim de tudo, o sentido em tudo existir está no tempo ele da sentido para tudo que existe o tempo é o propósito das coisas que existem.
Eu estava perplexo como uma coisa tão simples fazia tanto sentido da forma como ele havia dito. Mas a minha pergunta principal ainda não havia sido respondida.
- quem é você exatamente? - Perguntei intrigado.

- Eu sou algo que não é bom nem ruim eu estou além do bem e do mal, sou simplesmente o que sou, diferente de vocês humanos. - Respondeu o ser tranquilamente.

- Você deve estar se perguntando por que eu ainda não respondi a sua pergunta relacionada à escuridão certo? Bom tudo tem a ver com o tempo, vou lhe contar por que tudo isso está acontecendo e onde está sua mãe...

Continua...

domingo, 4 de setembro de 2011

Diário das Trevas - Capítulo 12

Esse capítulo é a ponte para a verdadeira reta final da história. Espero que agrade e que tenha ficado bom. Até o Capítulo 13 onde tudo finalmente vai se revelar...

Anteriormente em Diário das Trevas:
- Ela vai acabar virando  um monstro daqueles! Aqueles monstros que você viu lá fora são pessoas e as pessoas que você viu com manchas e rosas negras vão virar aqueles monstros! – Disse o velho parecendo emocionado com alguma lembrança pessoal.
- Mas como?
- Alguma coisa escapou do diário e fez com que tudo que existe de ruim dentro da natureza e do coração dos seres humanos fosse colocado para fora. – Disse o velho atormentado

Capítulo 12: Um abraço de amor e esperança.
- O que você quer dizer com isso? – Perguntei abalado ainda com o que havia ouvido.
O velho parecia atordoado com tudo, sentia como se ele estivesse à beira da loucura. Respirei fundo e lentamente perguntei novamente para ele o que significava aquele papo de a natureza humana ter escapado para o lado de fora. Ele me olhou com os olhos arregalados e foi até a mesa onde havia uma jarra cheia de café, ele se serviu, bebeu alguns goles e pareceu se acalmar. Era estranho parecia que de alguma forma ele tinha se dado conta da realidade que o cercava.
- Eu vou lhe contar, mas você tem que me prometer que depois vai tirar essa garota daqui. – Disse o velho de forma a impor aquilo.
Eu não sabia o que ele iria me contar, mas não pretendia abandonar Jayne por pior que fosse o estado dela, porém menti para ele e concordei com sua condição. O velho me olhou de uma forma estranha me analisando, deu mais alguns goles e finalmente começou a falar já mais calmo.
- Eu me encontrei com um daqueles seres de rosto pálido e sem olhos quando estava deixando minha casa para vir até aqui e quando olhei para o rosto senti como se a minha alma houvesse mergulhado em um poço de verdades atormentadoras. Depois de algumas visões e sussurros que latejavam na minha cabeça eu finalmente comecei a entender a verdade. Essas pessoas que você viu pela rua com as manchas e as rosas negras no peito são pessoas que perderam a esperança na vida e em elas mesmas. Quando perdemos a esperança nossos corações se enchem de escuridão. Essa escuridão fez com que as pessoas lentamente fossem perdendo todas as suas esperanças de que algo bom pudesse acontecer e por alguma razão essa escuridão foi colocada para fora e está transformando as pessoas.
- Mas de onde surgiu essa escuridão?
O velho me olhou novamente daquela forma que parecia analisar cada movimento meu. Ele estralou os dedos tentando relaxar. – Quando eu mergulhei dentro da mente daquele ser eu vi uma mesa e um diário. No momento em que vi aquilo eu me lembrei de uma antiga teoria conspiratória que dizia que ao longo dos anos um bispo da igreja descreveu todas as guerras e atos inescrupulosos cometidos pelos seres humanos para no dia do julgamento final entregar para Deus, antes de morrer o bispo confiou esse diário a outro bispo para registrar os acontecimentos posteriores a sua morte e assim por diante até o fim dos tempos.
- Mas Deus é onipresente e onipotente, por que ele precisaria de um diário? – Perguntei curioso.
- não sei te responder isso, mas algum motivo deve ter, ou tudo não passa de uma lenda mesmo.
- Como você chegou nesse moinho velho? – Continuei eu com minha enxurrada de questões.
- É uma herança de família, eu costumava vir para cá no tempo da faculdade para estudar e fazer meus trabalhos, por ser um lugar calmo e afastado da cidade. – Disse o velho em meio a alguns goles de café.
E parei pensativo por alguns instantes tentando encaixar os fatos em minha mente - Como que pode aparecer aquela única estrela no céu?
- Eu não sei exatamente, eu tive um sonho estranho dois dias atrás que me mostrava esse local com a abertura nas nuvens e na escuridão, talvez tenham mais estralas aparecendo, eu não cheguei a observar o céu completamente, mas deve ter um significado. Então resolvi mandar aquele código para que as pessoas pudessem me achar.
- Mas por que em código?
- Eu não sei do que se trata aqueles seres sem olhos, eles me viram quando acendi uma lanterna em casa, é uma coisa que denuncia onde você esta e ao mesmo tempo incomoda eles, então mandei a mensagem no site de lista de números da cidade para todos os números que constavam lá e já dei a advertência da luz. Tudo em forma de um código simples, porque eu não sei como é a inteligência daqueles seres.
Tudo fazia sentido, provavelmente Jayne enquanto fugia daquele seres quando a encontramos já havia perdido as esperanças e seu coração foi engolido pela escuridão que tomou conta da cidade. Eu estava com um buraco dentro do meu coração, pois querendo ou não eu matei seres humanos, por isso havia visto as lembranças daquele monstro que tentou me estrangular, que na verdade era uma pessoa, um senhor que havia tido muitos problemas, brigas e desentendimentos durante sua vida, e isso deixou marcas de rancor em sua alma e em seu coração.
Eu estava vivo até aquele momento porque sempre tive esperança nas pessoas que amo, eu tive a certeza naquele momento que quando as pessoas perdem a esperança em seus sonhos em suas vidas elas definitivamente viram uma casca vazia que vagam pela terra. Era o que estava acontecendo com todas as pessoas. Seria um castigo por tudo que o ser humano fez de mal ao seus semelhantes?
Se o destino existe a esperança é algo inútil.
Se o destino existe a esperança não passa de mera superstição.
Se destino existe, a esperança não passa de uma palavra bonita para se iludir com o destino irremediável da sua vida.
Eu acho que...
Eu me levantei e fui até onde estava Jayne deitada e a abracei com todas as minhas emoções transbordando.
- Eu não vou te abandonar, vou estar com você até o final por que eu acredito no que eu sinto por você, eu acredito que tudo ficará bem. – Disse eu bem baixinho em seu ouvido esperando que de alguma forma ela pudesse me escutar.
Fui até o velho e perguntei seu nome ele respondeu; Se chamava Boris. Olhei o local e parecia um bom lugar para deixar meu pai e Jayne. – Eu vou até a cidade procurar minha mãe e o meu irmão, quero que o senhor cuide do meu pai e da Jayne.
O velho arregalou os olhos e deu alguns passos para trás. – Essa garota vai virar um monstro daqueles, eu não vou ficar com ela aqui!
- Não ela não vai, eu acredito que ela vai ficar bem, o senhor está perdendo as suas esperanças em tudo, logo o senhor vai virar um deles, acreditar nela vai salvar o senhor, acredite nela e em mim tenha esperança e tudo vai ficar bem.
O velho arregalou os olhos, pois minhas palavras pareceram fazer sentido para ele. – O senhor é formado em que seu Boris? – Perguntei curioso.
Ele ajeitou a garganta com um tossido e respondeu orgulhosamente. – Sou formado em Antropologia, Sociologia e História.
Eu sorri e aquilo fez ele abrir seu primeiro sorriso em muito tempo, pois seus rosto carregava as marcas da tristeza que o tempo traz como sobremesa as nossas vidas humanas. Eu tinha certeza que meu pai e Jayne ficariam bem e ao mesmo tempo sentia que o velho Boris passou a acreditar em mim. Dei a partida no carro e fui em direção à cidade. O céu no centro da mesma continuava avermelhado com clarões igualmente vermelho.
Parecia um cenário apocalíptico, mas eu estava decidido a encontrar minha mãe e meu irmão, eu sentia que podia! Minha mente e o meu coração estavam preparados para vencer a própria escuridão que existia dentro de mim.

Continua...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Quem Te Traz as Cores - Capítulo 8

Capítulo 8: Estranhos e Revelações




- Ah, droga, esqueci o meu celular no quarto – exclamou Gabrielle enquanto faziam o check out no hotel de Londres.

- Deixa que eu busco – prontificou-se Douglas. Ele estava sendo mais gentil e prestativo que o normal nesta manhã.

- Está em cima do...

- Criado-mudo, ao lado da cama, ok.

Gabrielle o observava disparando pelas escadas com uma sacola de viagens de aspecto pesado, enquanto sorria diante da forma como ele a estava tratando naquela manhã. Provavelmente está remoendo alguma coisa sobre ontem a noite, ela pensou. E, diga-se de passagem, era um pensamento bem acertado.

A noite anterior tinha começado de forma irretocável. Tinha tido venda nos olhos, surpresa – na verdade muitas surpresas – patinação no gelo e até beijos...

Quando voltaram ao hotel, os dois, que haviam passado no seu novo pub favorito para tomar uns drinques, e dessa vez parado para ver o show, estavam falando muito e rindo muito. Jogaram-se na enorme cama de casal e ficaram olhando o teto, enquanto a cama rodava lentamente. Douglas segurava a mão dela aparentemente sem notar. Os dois se olharam. Ainda deitados, nem perceberam que o mundo além de um e de outro estava de lado. Ele levou a mão ao rosto dela e a tocou delicadamente. Ela então aproximou-se dele e começou a beijá-lo.

Continuaram com isso por um tempo. Em certo ponto, uma idéia perturbou a mente não tão lúcida de Douglas. Não deviam continuar, ou melhor, não deviam passar disso.

- Espera – ele disse.

- O quê? – ela o olhou nos olhos.

- Você não acha que o que temos... quer dizer, que tudo que aconteceu, é de certa forma, especial? - Ele tinha que fazer força para pronunciar as palavras corretamente, isso quando conseguia pensar nas palavras antes - Eu estou me referindo a toda a situação, às coisas que aconteceram e nos trouxeram hoje, a este momento.

- Claro que sim – ela respondeu, definitivamente não entendia nada do que ele estava falando.

A cabeça dele estava confusa e ele estava muito sem jeito agora. Definitivamente era fraco para a bebida. Estava perdendo feio para Gabrielle que bebera a mesma quantidade.

- Pois é. Eu acho que a gente deve fazer isso da forma certa. Entende?

Para ela, as coisas estavam começando a fazer sentido.

- Hmmm – foi o som que ela produziu – acho que estou te entendendo – apesar da expressão perdida, por dentro, ela estava sorrindo.

- É o que eu estou dizendo – ele disse – é o que eu estou dizendo...

Depois ele levantou da cama e se atirou no colchão ao lado dela, dormindo quase instantaneamente. Gabrielle observava aquilo sentindo-se de uma forma quase tão divertida quanto surpresa.

- Tudo bem – falou ela virando-se para ele no colchão. Ela então pegou a mão dele em uma das suas, o desnível das camas tornava a imagem estranhamente bela. Com a outra mão, ela apagou a luz do abajur.



Quando ele chegou no quarto carregando aquela mala irritantemente pesada, estava ofegante. Por que diabos não subiu pelo elevador, pensou. Foi até a cama, e sentou-se próximo ao criado-mudo. Atirou a mão preguiçosamente para pegar o celular, e ficou brincando com ele nas mãos enquanto remoia a noite anterior. Depois de uns minutos, guardou o celular no bolsinho da mala, e fez menção de levantar. Foi quando Gabrielle entrou no quarto devagar e deu duas batidinhas na porta.

- Entrando – ela disse, e se sentou ao lado dele na cama – Douglas, eu quero te dizer uma coisa.

- O quê?

Ela suspirou.

- O que você fez ontem, foi... lindo, na falta de uma palavra melhor pra descrever.

- Você fala da surpresa, da pista de patinação?

- Também. Mas me refiro a noite inteira, desde a surpresa, até o momento em que fomos dormir.

Ele a abraçou.

- O que me preocupa, é que essa estratégia geralmente não funciona para mim. Mas fazer o quê? Não consigo fazer diferente.

- Parece que não está funcionando? – perguntou ela sarcástica, sorrindo, e o beijou. Queria colocar “seu bobo inseguro” no fim dessa interrogação, mas achou melhor não – Qualquer outro cara teria agido diferente. Você fez tudo como deveria ter feito, eu não mudaria nada.

Ele levantou-se da cama, sorriu pra ela e disse:

- Vamos então? – parecia mais confiante.

- Pegou o celular? – perguntou ela levantando-se da cama também.

- Peguei.



A França é um país indiscutivelmente belo. As ruas de Paris tem um aspecto quase sujo. Não que seja, de fato, sujo, mas elas emanam uma paixão, uma falta de artificialidade, uma arte. Não consigo pensar em outra forma de descrever, já que este narrador que vos fala, nunca esteve passeando por entre as vielas desta cidade, ou às margens do Rio Sena à noite, sob as luzes, estas sim, artificiais. Fato este que um dia há de mudar.

- E você sabe que ele mora em cima deste café, no centro? –Perguntou Gabrielle, enquanto almoçavam, logo após chegarem em Paris. Almoçavam em um restaurante italiano, já que não sabiam o que eram as coisas descritas nos cardápios dos franceses. Melhor não arriscar.

- Sim, eu procurei na internet, em uma lista telefônica mais ou menos do ano em que ele veio para cá. Depois eu descobri que era em cima desse café que eu te falei.

- Mas você tem certeza que era ele?

- Olha, tem muitos Rafael na França, e tem muitas Gabrielle também – ele sorriu pra
ela - mas não muitos Rafael com o meu sobrenome… no mundo.

- Seu sobrenome? Qual é?

- Ah, pra te dizer isso vou ter que esperar você estar perdidamente apaixonada antes. Caso contrário você só vai dizer “Eu não namoro com um cara que tem um nome desses, não mesmo”. Depois vai sair porta afora, no mesmo instante.

- Tão ruim assim é? – perguntou ela colocando a mão em cima da dele na mesa.

- Tão ruim assim – ele riu.



Era de tarde quando foram ao tal café que Douglas descreveu. Ele estava nervoso, pensando se faria como Gabrielle, e gritaria com Rafael, xingando-o de tudo que lhe viesse a mente e culpando-o de tê-lo abandonado. Talvez não, mas com certeza o encheria de sarcasmos, até que finalmente decidiria se o perdoava ou não, dependendo de suas explicações. Choraria somente mais tarde, escondido de Gabrielle... ou talvez não. Sentia-se seguro perto dela, talvez pudesse dividir com ela esse sentimento, como ela fizera na Itália.

Foram até a dona do estabelecimento, uma senhora alta, loura, aparentando uns cinqüenta e poucos. E começaram a conversar com ela em inglês.

- Boa tarde! – disse Gabrielle – A senhora fala Inglês?

- Olá. Sim, sim, falo. Em que posso ajudá-los?

- Oi – adiantou-se Douglas – Nós viemos de muito longe, estamos procurando um homem, que se mudou para cá há quase vinte anos atrás. Eu soube que ele morava no 202, logo acima do seu café. Faz muito tempo que a senhora tem esse estabelecimento?

- Ah, sim. Esse lugar era dos meus pais. Existe a mais de cinqüenta anos. Eu sou a dona há uns trinta já.

- Quem bom!- exclamou Douglas – assim a senhora provavelmente conhece o homem de que estou falando...

- Fala do senhor Rafael?

- Sim, ele mesmo – disse Gabrielle.

- E o que são dele? – a senhora perguntou olhando de um para o outro.
Douglas hesitou.

- Eu sou… filho dele – disse por fim.

A mulher pareceu ficar um pouco incomodada.

- Olha, senhor…

-Douglas.

- Senhor Douglas, não sei como lhe dizer isso, mas conheci o Rafael, realmente há uns vinte anos, apenas alguns meses antes de ele...

- Antes de o quê? – perguntou Douglas, um nó se formava na garganta, ele imaginava a resposta.

- Rafael foi atropelado, há duas quadras daqui, apenas alguns meses depois de se mudar. Ele morreu antes de chegar ao hospital. Odeio ser eu a lhe dar essa notícia… eu realmente sinto muito. Durante o tempo que passou aqui, ele vinha tomar seu café da manhã todos os dias. Sempre me pareceu uma boa pessoa, se isso servir de algum consolo.

Mas Douglas não estava mais ouvindo. Estava tentando processar a informação. Não sabia realmente como encarar aquilo, pois não tinha vontade de chorar. Não se pode sentir falta do que nunca esteve lá.