sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Quem Te Traz as Cores - Capítulo 9

Alexandre Barbosa da Silva



Capítulo 9: Os saldos e a tremenda idiotice.




Se fosse chorar por algum motivo, seria pela falta de mudança. Pela esperança despedaçada e pela decepção. E por isso, de fato, chorou.

Mas não conhecia Rafael pra chorar por ele. Sabe quando alguém morre na televisão, alguém famoso, mas que você nem sabe o que essa pessoa fazia da vida? Era mais ou menos isso. Será que sua mãe sabia? Provavelmente não, pois falava dele sempre com um tom de raiva. Devia achar que ele fora embora e desaparecido por conta própria, e que nunca mais quis nem saber do filho.

Gabrielle o abraçava, enquanto estavam deitados na cama do hotel, e descansava a cabeça sobre o seu peito.

Depois de quase uma hora na qual ninguém falou nada, Gabrielle falou:

- Está tudo bem?

- Está sim – ele a abraçou mais apertado – só estou pensando.

- Sei que é uma pergunta idiota, mas, no que está pensando?

- Não é uma pergunta idiota não – respondeu ele, os olhos grudados no teto, as mãos afagando o cabelo de Gabrielle – Claro, eu estou pensando nisso também, mas também estou pensando no saldo dessa viagem.

- Saldo?

- É, quero dizer, eu vim até a Europa, planejei isso durante anos e acabou desse jeito. De um jeito que eu não poderia prever.

Gabrielle sentiu uma pontada de tristeza. Se sentiu mal por isso, estava sendo egoísta, pensou.

Como se tivesse lendo os pensamentos dela, ele continuou:

- Por outro lado, uma coisa que eu não previ também, se provou uma surpresa maravilhosa.

A pontada de tristeza sumiu. Gabrielle se sentia ainda mais egoísta por isso, mas uma egoísta feliz pelo menos. E sabendo a resposta, perguntou:

- O que?

Ele a puxou para mais perto, sabia que ela queria ouvir aquilo, por mais que casais no mundo todo digam isso a todo instante.

- Eu encontrei você.



Naquela mesma noite e nos dois dias que se seguiram, Os dois aproveitaram para conhecer o máximo de lugares de Paris que conseguiram. Douglas estava ficando mais a vontade, depois das descobertas que tinha feito. Não dava pra dizer que tinha esquecido, mas Gabrielle era algo tão bom pra ele, que não conseguia ficar triste por muito tempo ao lado dela. De ambas as partes, o sentimento aumentava, e estavam dispostos a dar continuidade quando voltassem pra casa.

Então chegou o dia em que ele partiria para a Espanha, em sua última escala, e ela voltaria para a Itália, onde passaria mais uns dias com o pai.

No aeroporto, chegaram ao momento da despedida, mais uma vez temporária.

- Divirta-se na Espanha – ela disse – eu soube que as espanholas são muito bonitas.

Ele retribuiu o sorriso que ela lhe lançava, o sorriso que estava aprendendo a amar, e a abraçou com nunca antes. A segurou por um tempo, e ainda abraçando-a, disse:

- Obrigado – não sabia se conseguiria soltá-la.

- Obrigada você – ela disse afastando-se – por me ajudar, por me levar a pista de patinação, por tudo que fez. Por me dar apoio com o meu pai…

Uma lágrima correu pelo seu rosto.

- Que bobagem né? – ela disse – até parece que a gente ta se despedindo de verdade!

- Vejo você em alguns dias.
Então ele foi se afastando, de mãos dadas, soltando-a lentamente. Ela sorriu, enxugou as lágrimas com uma das mãos e foi embora.




Teria sido lindo, teria sido mágico, e no fim foi ainda mais mágico, devido a grande idiotice que eles fizeram.

Quando ele estava no avião, pensando que dessa vez era real, não tinha erro, em uma semana mais ou menos, ele teria de fato, um relacionamento, com alguém tão improvável quanto a situação que os uniu, pensou em uma coisa que lhe causou choque.

Eles não trocaram números de celular, depois que o primeiro de Gabrielle estragou. Eles não sabiam o nome completo um do outro, nem o dia em que desembarcariam de volta em sua terra-natal. Como haviam deixado isso passar? Será que estarem apaixonados os havia deixado loucos também? Como pretendiam se encontrar depois, se não tinham nem como se localizarem? Como puderam ser tão idiotas?

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