domingo, 4 de setembro de 2011

Diário das Trevas - Capítulo 12

Esse capítulo é a ponte para a verdadeira reta final da história. Espero que agrade e que tenha ficado bom. Até o Capítulo 13 onde tudo finalmente vai se revelar...

Anteriormente em Diário das Trevas:
- Ela vai acabar virando  um monstro daqueles! Aqueles monstros que você viu lá fora são pessoas e as pessoas que você viu com manchas e rosas negras vão virar aqueles monstros! – Disse o velho parecendo emocionado com alguma lembrança pessoal.
- Mas como?
- Alguma coisa escapou do diário e fez com que tudo que existe de ruim dentro da natureza e do coração dos seres humanos fosse colocado para fora. – Disse o velho atormentado

Capítulo 12: Um abraço de amor e esperança.
- O que você quer dizer com isso? – Perguntei abalado ainda com o que havia ouvido.
O velho parecia atordoado com tudo, sentia como se ele estivesse à beira da loucura. Respirei fundo e lentamente perguntei novamente para ele o que significava aquele papo de a natureza humana ter escapado para o lado de fora. Ele me olhou com os olhos arregalados e foi até a mesa onde havia uma jarra cheia de café, ele se serviu, bebeu alguns goles e pareceu se acalmar. Era estranho parecia que de alguma forma ele tinha se dado conta da realidade que o cercava.
- Eu vou lhe contar, mas você tem que me prometer que depois vai tirar essa garota daqui. – Disse o velho de forma a impor aquilo.
Eu não sabia o que ele iria me contar, mas não pretendia abandonar Jayne por pior que fosse o estado dela, porém menti para ele e concordei com sua condição. O velho me olhou de uma forma estranha me analisando, deu mais alguns goles e finalmente começou a falar já mais calmo.
- Eu me encontrei com um daqueles seres de rosto pálido e sem olhos quando estava deixando minha casa para vir até aqui e quando olhei para o rosto senti como se a minha alma houvesse mergulhado em um poço de verdades atormentadoras. Depois de algumas visões e sussurros que latejavam na minha cabeça eu finalmente comecei a entender a verdade. Essas pessoas que você viu pela rua com as manchas e as rosas negras no peito são pessoas que perderam a esperança na vida e em elas mesmas. Quando perdemos a esperança nossos corações se enchem de escuridão. Essa escuridão fez com que as pessoas lentamente fossem perdendo todas as suas esperanças de que algo bom pudesse acontecer e por alguma razão essa escuridão foi colocada para fora e está transformando as pessoas.
- Mas de onde surgiu essa escuridão?
O velho me olhou novamente daquela forma que parecia analisar cada movimento meu. Ele estralou os dedos tentando relaxar. – Quando eu mergulhei dentro da mente daquele ser eu vi uma mesa e um diário. No momento em que vi aquilo eu me lembrei de uma antiga teoria conspiratória que dizia que ao longo dos anos um bispo da igreja descreveu todas as guerras e atos inescrupulosos cometidos pelos seres humanos para no dia do julgamento final entregar para Deus, antes de morrer o bispo confiou esse diário a outro bispo para registrar os acontecimentos posteriores a sua morte e assim por diante até o fim dos tempos.
- Mas Deus é onipresente e onipotente, por que ele precisaria de um diário? – Perguntei curioso.
- não sei te responder isso, mas algum motivo deve ter, ou tudo não passa de uma lenda mesmo.
- Como você chegou nesse moinho velho? – Continuei eu com minha enxurrada de questões.
- É uma herança de família, eu costumava vir para cá no tempo da faculdade para estudar e fazer meus trabalhos, por ser um lugar calmo e afastado da cidade. – Disse o velho em meio a alguns goles de café.
E parei pensativo por alguns instantes tentando encaixar os fatos em minha mente - Como que pode aparecer aquela única estrela no céu?
- Eu não sei exatamente, eu tive um sonho estranho dois dias atrás que me mostrava esse local com a abertura nas nuvens e na escuridão, talvez tenham mais estralas aparecendo, eu não cheguei a observar o céu completamente, mas deve ter um significado. Então resolvi mandar aquele código para que as pessoas pudessem me achar.
- Mas por que em código?
- Eu não sei do que se trata aqueles seres sem olhos, eles me viram quando acendi uma lanterna em casa, é uma coisa que denuncia onde você esta e ao mesmo tempo incomoda eles, então mandei a mensagem no site de lista de números da cidade para todos os números que constavam lá e já dei a advertência da luz. Tudo em forma de um código simples, porque eu não sei como é a inteligência daqueles seres.
Tudo fazia sentido, provavelmente Jayne enquanto fugia daquele seres quando a encontramos já havia perdido as esperanças e seu coração foi engolido pela escuridão que tomou conta da cidade. Eu estava com um buraco dentro do meu coração, pois querendo ou não eu matei seres humanos, por isso havia visto as lembranças daquele monstro que tentou me estrangular, que na verdade era uma pessoa, um senhor que havia tido muitos problemas, brigas e desentendimentos durante sua vida, e isso deixou marcas de rancor em sua alma e em seu coração.
Eu estava vivo até aquele momento porque sempre tive esperança nas pessoas que amo, eu tive a certeza naquele momento que quando as pessoas perdem a esperança em seus sonhos em suas vidas elas definitivamente viram uma casca vazia que vagam pela terra. Era o que estava acontecendo com todas as pessoas. Seria um castigo por tudo que o ser humano fez de mal ao seus semelhantes?
Se o destino existe a esperança é algo inútil.
Se o destino existe a esperança não passa de mera superstição.
Se destino existe, a esperança não passa de uma palavra bonita para se iludir com o destino irremediável da sua vida.
Eu acho que...
Eu me levantei e fui até onde estava Jayne deitada e a abracei com todas as minhas emoções transbordando.
- Eu não vou te abandonar, vou estar com você até o final por que eu acredito no que eu sinto por você, eu acredito que tudo ficará bem. – Disse eu bem baixinho em seu ouvido esperando que de alguma forma ela pudesse me escutar.
Fui até o velho e perguntei seu nome ele respondeu; Se chamava Boris. Olhei o local e parecia um bom lugar para deixar meu pai e Jayne. – Eu vou até a cidade procurar minha mãe e o meu irmão, quero que o senhor cuide do meu pai e da Jayne.
O velho arregalou os olhos e deu alguns passos para trás. – Essa garota vai virar um monstro daqueles, eu não vou ficar com ela aqui!
- Não ela não vai, eu acredito que ela vai ficar bem, o senhor está perdendo as suas esperanças em tudo, logo o senhor vai virar um deles, acreditar nela vai salvar o senhor, acredite nela e em mim tenha esperança e tudo vai ficar bem.
O velho arregalou os olhos, pois minhas palavras pareceram fazer sentido para ele. – O senhor é formado em que seu Boris? – Perguntei curioso.
Ele ajeitou a garganta com um tossido e respondeu orgulhosamente. – Sou formado em Antropologia, Sociologia e História.
Eu sorri e aquilo fez ele abrir seu primeiro sorriso em muito tempo, pois seus rosto carregava as marcas da tristeza que o tempo traz como sobremesa as nossas vidas humanas. Eu tinha certeza que meu pai e Jayne ficariam bem e ao mesmo tempo sentia que o velho Boris passou a acreditar em mim. Dei a partida no carro e fui em direção à cidade. O céu no centro da mesma continuava avermelhado com clarões igualmente vermelho.
Parecia um cenário apocalíptico, mas eu estava decidido a encontrar minha mãe e meu irmão, eu sentia que podia! Minha mente e o meu coração estavam preparados para vencer a própria escuridão que existia dentro de mim.

Continua...

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